A opinião de ...

Platinum Regina

Entronizada a 6 de fevereiro de 1952 e com a popularidade intocável aos 95 anos de idade, Elisabeth II celebra as Bodas de Platina dos 70 anos de reinado, sendo a soberana britânica com mais tempo de permanência no trono. De facto, ultrapassou a longevidade régia da trisavó rainha Vitória (1837-1901), designada à época como a avó da Europa e figura marcante do século XIX – o século do poder mundial anglo-saxónico. Curiosamente, foi também outra soberana mulher com um reinado relativamente longo (Elisabeth I, 1558-1603) quem projetou a Grã-Bretanha para o patamar do poder marítimo mundial, naquele que ficou designado como o «Século de Ouro». Pelo que se percebe, a presença de mulheres na chefia das Ilhas Britânicas tem sido um garante de poder e prestígio enquanto objetivos primeiros de um Estado.
Politicamente imparcial, de fino recorte diplomático e postura austera, Elisabeth II exerce o seu magistério com dignidade, serenidade e determinação. Figura reverenciada e incontornável dos séculos XX-XXI, permanece como garante de estabilidade, coerência e equilíbrio da fleuma britânica. Além do Reino Unido, é também soberana de outros 13 Estados referenciados como reinos da Comunidade das Nações, que inclui o Canadá, a Austrália ou a Nova Zelândia, e chefe da Commonwealth, formada por 53 Estados espalhados pelos cinco continentes, a quem apontam como fiadora de convergência, identidade e «Defensora da Fé». Teve em Winston Churchill o seu primeiro Primeiro-Ministro, a que se seguiram mais 13 e, desde que subiu ao trono, conviveu com 13 presidentes dos Estados Unidos e «viu sentar-se» na cadeira de São Pedro 7 Papas. Acompanhou as vicissitudes próprias de um mundo em grandes transformações, evoluções e convulsões, a nível interno geriu como parte interessada a condução das políticas públicas operada tanto por conservadores como por trabalhistas e coabitou com recorrentes «espasmos» familiares. Em tudo e perante tudo, manteve a credibilidade e permaneceu incriticável.
Como curiosidades, o monarca com mais tempo no trono ainda é o francês Luís XIV, com 72 anos (1643-1715), o «Rei-Sol» de uma Monarquia Absoluta, que assumiu o ceptro real com 5 anos, mas só governou a partir de 1660, após a morte do cardeal-ministro Mazarino. Em Portugal, a figura que mais tempo exerceu o poder foi o «Rei Fundador» D. Afonso Henriques: de São Mamede a Ourique (1128-1139) como Príncipe Portucalense; de Ourique ao Tratado de Zamora (1139-1143) como Rex de Facto; 1143-1185 enquanto Portucalense Rex de Jure. 57 anos no total. O que é notável para a época em questão e em quem passou parte da vida de espada na mão.
Na foto oficial do Jubileu de Platina, Elisabeth II apresentou-se com a famosa e tradicional caixa vermelha dos despachos na mesa, demonstrativa do trabalho diário, em pano de fundo a imagem do pai, rei Jorge VI, de quem foi sempre muito próxima e a quem sucedeu, e a pregadeira oferecida pela rainha-mãe em 1944.
Se quem vai a Roma quer visitar o Vaticano e ver o Papa, quem visita Londres não dispensa um olhar ao Palácio de Buckingham, como se assim visse a própria rainha. Porque, na verdade, de tão habituados que estamos a «conviver» com Sua Majestade, parece que ela é a rainha da humanidade. Conforme se lhe referiu recentemente o ator Ben Kingsley, «é um conforto termos uma mãe e a rainha é a nossa mãe», a soberana que definiu a Monarquia Constitucional como modelo de regime!

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