A opinião de ...

O Desafio à Ordem

Uma das exigências, nem sempre respeitada no sentido de conseguir definir uma governança que discipline, a partir de um conceito de “justiça natural”, a globalização das interdependências, sofreu, neste ano que fora anunciado feliz, um desafio extremamente preocupante. A causa foi o assassinato do General Soleimini, na sexta feira 3 de janeiro do novo ano, por ordem do Presidente Trump, no território do Iraque. O executado era um herói nacional do Irão, responsável por uma mortandade de enorme dimensão, mas assumida pelo interesse do Irão, o qual por seu lado recebeu da cólera contra a intervenção americana algum apaziguamento pelo reconhecimento interno contra as violências por si praticadas. Violências que não omitem as que se traduziriam contra a América depois da caducidade do acordo que respeitava à definição do poder atómico do Irão. Não se trata portanto de um procedimento que faça da sua história apenas uma ação submissa ao conflito dos dois Estados, mas de uma ação americana num Estado diferente do Irão. A república islâmica clama por “vingança” em qualquer ocasião e lugar, uma cólera que as fações relacionadas ao Irão, designadamente no Iraque onde a execução teve lugar, na Síria, no Líbano, ou no Yemen, reprovam os interesses americanos invocados por Trump para ordenar a execução. Lembre-se que nas relações mais severas com a China um General americano declarou que haveria uma guerra entre os dois países no espaço de quinze anos. Agora, sendo de reconhecer que faz parte da tradição americana punir quem ofender a América, a decisão também claramente procurou levantar o orgulho da América, e a justificação do passado no julgamento que foi desejado por Trump. Acontece porém que as manifestações já verificadas em várias cidades americanas são no sentido de evitar uma guerra, que um Tenente-Coronel terá declaro ser inevitável, ainda que esta previsão não venha a ser confirmada pelas consequências da leviandade do Presidente. Não se trata apenas de porventura o General Esmail Ghani ser agraciado pelo mérito nacional reconhecido pela sucessão de Soleimini, mas pela capacidade de o fraco vencer o forte, com ações terroristas, como ficou historicamente demonstrado com o desastre brutal das Torres Gémeas. Em qualquer Estado independente e pacífico, onde por direito se encontrem interesses americanos, o abuso de estes terem agido em Estado diferente do Irão, pode repetir-se de resposta, como mais de uma vez aconteceu, por ação terrorista. Pode admitir-se que a cólera do Irão é formalmente uma declaração ameaçadora de eventual guerra, embora sejam problemáticas as formas das represálias assumidas. Designadamente Israel prefere medidas defensivas imaginando eventuais consequências implicadas pela leviandade de Trump, que mediu deficientemente a “resistência máxima” de Teerão, que tem um passado histórico importante, tem a fé mas não é árabe, e claramente declarou que não deseja a guerra mas não a teme. Todos os países ocidentais apoiam a mediação e a prudência, parecendo seguramente leviana mais uma vez a convicção de Trump de que não funciona como uma submissão às leis do mundo, supondo que teria apenas apoiado uma legítima operação de polícia. O Papa Francisco, que parece adotar a Missa sobre o Mundo de Teilhard de Chardin, não faltou com a prece sobre “o turbilhão e a dor do mundo”, com esperança no milagre de ser compreendido.

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