A opinião de ...

As minhas vivências do 25 de Abril

Nasci em 20 de Outubro de 1953, em Arcos de Valdevez (distrito de Viana de Castelo) e, com poucos dias, fui viver para a cidade de Viana do Castelo, curiosamente para a rua Manuel Espregueira (na altura de S. Sebastião), rua para onde o nosso Guerra Junqueiro foi viver quando se casou e onde nasceram as suas duas filhas. Nesta rua aconteceu-me um facto curioso: em 1961, tinha eu oito anos, quando “apanhei” uma doença muito vulgar naqueles tempos, o sarampo. Estava eu no meu quarto, todo iluminado com luzes vermelhas (como era vulgar para “combater” aquela doença, naqueles tempos), quando comecei a sentir fome, daí que toquei desesperadamente na campainha que estava junto à minha cama, para chamar a minha querida mãe. Passados poucos minutos, entra no meu quarto e disse-me: - “Toninho, o teu pai e o teu irmão, estão “agarrados” à rádio pois rebentou uma guerra em Angola”. Estávamos em 1961.
Em Viana do Castelo estudei no Colégio do Minho e na quarta classe, como mudamos para a rua da Bandeira, na escola do Carmo onde, curiosamente tive um professor transmontano, o Sr. Professor David, que ainda hoje recordo com muita saudade.
Dentro de alguns anos, mudamos para a cidade de Braga, onde estudei no colégio D. Diogo de Souza e, mais tarde, no Liceu Sá de Miranda, que era um liceu do Estado e para rapazes (curiosamente que, nos últimos anos que lá estudei, era exclusivamente para rapazes, as raparigas estudavam no Liceu D. Maria que ficava longe do masculino…), a minha turma, já nos últimos anos foi das primeiras turmas mistas, ou seja, onde havia raparigas que, eram tratadas como verdadeiras princesas…Foi em Braga que tomei contacto com a política, uma vez que já éramos adolescentes e havia colegas meus já metidos na política. Foi em Braga que conheci o Dr. Salgado Zenha (que tinha uma bela casa para fins de semana e férias, na freguesia de Palmeira); o Dr. Francisco Sousa Tavares (e sua esposa Sofia de Mello Breyner Andresen); Gonçalo Ribeiro Telles e muitos outros que, quase secretamente, pertenciam ao CEUD, teria eu
cerca de 16/17 anos. Foi exatamente no Liceu Sá de Miranda, em Braga, que eu conheci, pela primeira vez os chamados «bufos», ou seja, os tipos que, fingiam ser nossos amigos e, depois de combinarmos onde íamos colar cartazes, escrever nas paredes ou distribuir panfletos, eles comunicavam aos elementos da PIDE/DGS, quem éramos. De facto, eu fui educado pelo meu querido e saudoso avô materno, o professor António José Gonçalves Ramos, velho democrata que, não gostava do Estado Novo, que de novo só tinha o nome. Foi assim que cresci e foi assim que cada vez lutei mais pela democracia. Acompanhei a “revolta” não conseguida das Caldas e a vitória do 25 de Abril de 1974. Em Braga, depois no Porto (na Faculdade de Letras), “meti-me” na luta a sério pela democracia e que lutei contra certas ideologias que, no fundo, não eram democratas, antes defendiam outras ditaduras. Como cidadão lutei sempre pela democracia e gostei bastante do 25 de Novembro de 1975, e da oposição ao chamado “verão quente”, do militar Ramalho Eanes e do transmontano Jaime Neves (comandante do Regimento dos Comandos da Amadora) entre outros. Graças a eles hoje vivemos em Democracia. Concluo desta maneira: Viva o 25 de Abril, nos seus 50 anos de existência.

Edição
3983

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