A opinião de ...

País a duas velocidades cada vez mais distantes

O Jornal de Notícias publicava, na semana passada, uma notícia que devia encher de vergonha todos os governantes deste país, atuais e passados.
Titulava o JN que o Litoral tem sete vezes mais verbas do PRR do que o Interior.
A notícia, em si mesma, não deveria causar grande espanto, tendo em conta os constantes despautérios de que os habitantes do interior do país são vítima.
Mas, dizia ainda o JN, “o agravamento das assimetrias colide com objetivos da União Europeia. É nas obras grandes que se registam os maiores atrasos”, lia-se.
“O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) atribuiu, em média, sete vezes mais verbas a um concelho do Litoral do que a um município do Interior. A discrepância não surpreende os autarcas dos territórios de baixa densidade populacional, que apontam como “pecado capital” a centralização das decisões e da execução do plano”, escreveu o JN.
Tendo em conta que 80 por cento da população portuguesa está concentrada na fixa litoral que vai de Setúbal a Viana do Castelo, é fácil de perceber que o peso dos eleitores do que resta de território é proporcional ao seu número. Mas enquanto não se inverterem as políticas, as cidades do litoral vão continuar a ser grandes e a engordar à medida que os anos passam.
Isto cria desequilíbrios não só em termos de justiça (todos pagam os mesmos impostos e todos têm os mesmos direitos) como também cria dificuldades à própria gestão do país. É que as cidades começam a dar mostras das dores do crescimento rápido e acentuado que viveram nos últimos anos e a não caber nas calças que vestem. Daí que o preço da habitação ande por números estratosféricos, muito longe da capacidade média do assalariado português, bem como a gestão de serviços em áreas tão importantes como educação e saúde dão mostras de ceder perante tão grande procura.
Já no interior do país muitos serviços estão às moscas, assim como muitas casas e até os campos.
Promover uma distribuição mais equitativa da população por todo o território não só era mais justo como mais inteligente. Se calhar o problema tem estado precisamente aí...

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