A opinião de ...

Salvar vidas é um investimento, não um gasto

O ano de 2024 tem sido particularmente trágico para os agricultores transmontanos, com cinco vítimas mortais em poucas semanas na sequência de acidentes com tratores agrícolas.
O martírio costuma ser mais intenso em anos de invernos longos e chuvosos, que deixam os terrenos mais instáveis e a necessidade de se fetuarem trabalhos agrícolas a tempo dos prazos legais de limpeza de terrenos, a tempo de sementeiras ou na altura em que os pomares precisam de ser lavrados para não comprometer o desenvolvimento das árvores devido à concorrência das ervas daninhas.
Tal como indicam os dados da GNR, de que o Mensageiro deu conta em devida altura, a maioria das vítimas são operadores acima dos 55 anos. Ou seja, com a mobilidade mais reduzida e os reflexos mais condicionados.
Há uns anos, num trabalho do Governador Civil da altura, Jorge Gomes, também se concluiu que vários acidentes aconteciam depois de almoço, numa altura em que a confiança em cima das máquinas, digamos assim, era outra.
O cansaço dos operadores após várias horas a operar os tratores aliado a uma idade mais avançada e a um excesso de confiança que se vai adquirindo com hábitos enraizados levam, em muitas situações, a desfechos fatais.
O Governo, qualquer que seja, tem o dever de zelar pela vida dos seus cidadãos.
Como dizia o Papa Francisco durante a pandemia, “toda a vida humana, única e irrepetível, é válida em si mesmo, constitui um valor inestimável. Isso deve sempre ser anunciado, com a coragem da palavra e a coragem das ações. Isso exige solidariedade e amor fraterno pela grande família humana e por cada um de seus membros”.
O problema passa, também, por uma questão cultural e alterar hábitos enraizados não se consegue do dia para a noite.
Mas, mais do que atirar paliativos para o problema (normalmente, dinheiro para formações e novas máquinas), que apenas atenuam a dor e não curam a doença, seria importante medidas de fundo para a agricultura, nomeadamente no interior norte do país, em que a orografia do terreno é mais acidentada e em que as propriedades são mais pequenas, dificultando, muitas vezes, as manobras.
Com todos estes fatores no caldeirão, o potencial de desastre tem sido grande, como se constata pelos números de acidentes com vítimas.

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