A opinião de ...

O vil metal e a contenda política fiduciária

Neste Abril de 2023, podemos evocar os 50 anos do Congresso da Oposição Democrática (Coligação Democrática Eleitoral, CDE), nos dias 8 e 9, em Aveiro, e a criação do Partido Socialista Português, na Alemanha, no dia 19 Abril, ambos de 1973. É o mês da primeira conquista do liberalismo democrático, em Portugal, no dia 25 do mês 4 de 1974, embora a confirmação deste sistema sócio-político só tenha ocorrido em 25 de Novembro de 1975, mesmo se misturado com o socialismo de gaveta de Mário Soares.
A expressão «vil metal» designa o conjunto dos males que o dinheiro traz aos homens. Embora a expressão só tenha surgido com Leão Tolstoi e com George Orwell, em 1886 e 1933, respectivamente, a imagem sugerida por ela remonta pelo menos à traição de Judas a Jesus Cristo.
É por causa do dinheiro que, por esta altura, Portugal vive uma quase crise governativa, resultante de um conflito fiduciário de apropriação e de hipervalorização política do dinheiro. Nunca, em Portugal, o dinheiro prometido e, presumivelmente, o dinheiro real, foram tão abundantes. A União Europeia quer ser não apenas a «terra prometida» mas também o brilho do «ouro» que a todos encanta. Chamam-lhe «bazuca», uns, e «Plano de Recuperação e Resiliência», outros, e foram anunciados 50 mil milhões de euros (10 milhões de contos), metade do Orçamento de Estado atual.
E todos se encantam na possibilidade de açambarcar e de distribuir todo este dinheiro. A guerra do PSD em relação ao Governo tem, acima de todas, esta razão. Os amigos (do PSD) estão sedentos do «vil metal» como estariam os do PS se estivessem na oposição. Há que controlar o acesso ao dinheiro, gerir o seu uso partilhando os despojos da vitória com os «guerreiros».
Esta razão, humana, já seria suficiente para o confronto mas alguns socialistas e meia dúzia de governantes acrescentaram razões colocando-se a jeito das reprimendas do Presidente da República e do deslumbramento precoce do líder do PSD, Luís Montenegro.
Com um pouco mais de paciência, Luís Montenegro será Primeiro-Ministro (PM) por oferta de alguns ministros do Governo Socialista e por ausência do PM. O Presidente da República (PR) já não esconde este desejo mas pode calcular mal o modo do novo noivado. Um PR não deve ser parte activa de qualquer «guerra», deve saber geri-la como o árbitro de um jogo de xadrez. O hiperactivo ventríloquo Marcelo não é capaz de imitar nem Mário Soares nem Ramalho Eanes nem ainda Cavaco Silva que serviram sempre a vingança fria. E pela boca pode morrer o peixe e a sua cria.
O demérito do Governo resulta da sua juventude, da sua inexperiência, da ambição desmedida de alguns dos seus protagonistas, no contexto de uma maioria absoluta que caiu do céu. Mas o Povo Português quis conhecer o vilão com alguma certeza e, por isso, «meteu-lhe o pau na mão».
Para cúmulo, o Primeiro-Ministro tem estado demasiado envolvido, infelizmente, nas frentes internacionais, e também com o ónus das crises políticas e económicas mundiais que a pandemia de Covid-19 e a agressão russa à Ucrânia trouxeram. Assim, o Governo ficou sem treinador e sem capitão de equipa. O resultado é uma tremenda garotada e uma tremenda T(r)APalhada que já não são fáceis nem de perdoar nem de supera

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