A opinião de ...

Hidrodomínio

O mundo está sedento, literalmente, pois tantas são as terras e inclusive os leitos de alguns rios que ficaram em crosta pelas altas temperaturas e pela seca extrema de tempos infindos sem chover.
É desolador ver, como não há memória, caudais tão reduzidos nos rios, os seus afluentes completamente secos e, em tantas praias fluviais, o predomínio da areia e das pedras. Veja-se o que ocorreu aqui em Bragança, com o rio Igrejas.
É alarmante lermos, revista Science dixit (artigo de Joel Guiot e Wolfgang Cramer), que até 2090, se nada for feito, o deserto avançará até alcançar metade da Península Ibérica!
Constata-se a referência à escassez da água como uma “nova normalidade” (seca, depois chuvas torrenciais e inundações) não obstante a esperança de que melhores dias venham, como a chuva desta semana.
Este ouro incolor ocupa o cume das necessidades humanas e a sua falta provoca também fome. Cerca de 70% da água é usada para alimentar o ser humano, informa a FAO. Até os microchips, que tanto escasseiam hodiernamente, necessitam de água...
Pela água é possível que se venham a originar as designadas hidroguerras, isto é, conflitos abertos (alguns permanecem ainda latentes) pelo domínio e controle do acesso e distribuição de água. A este propósito, o índice de probabilidade de conflitos territoriais por causa da água, segundo o Global Enviromental Change (n. 52), é cada vez mais elevado. A própria Comissão Europeia pelo Joint Research Centre tem aludido a esta situação fazendo coincidir a sua atenção em 5 pontos vulneráveis e críticos: rios Ganges, Nilo, Tigre, Indo e Colorado. Acresce agora o rio Yangtsé, na China.
Neste sentido, a segurança hídrica será um valor cada vez mais decisivo, sobretudo para nós, hiper e vorazes consumidores deste recurso que está chamado a ser, na comparação económica, o petróleo do século XXI.
Não deixa de ser irónico que estejam a ser divulgados dados de que as grandes empresas atuais consomem mais água que petróleo e que seja já uma realidade visível que o preço médio da água se encontre cada vez mais elevado.
Daqui, compreende ainda mais premente sentido e acutilância o que J. F. Kennedy referiu: “quem for capaz de resolver os problemas da água, será merecedor de dois Prémios Nobel. Um pela Paz e outro pela Ciência”.
Não estamos capazes de influenciar a Real Academia Sueca, muito menos de incentivar quem o possa fazer para merecer tão relevantes prémios, mas penso que todos gostaríamos que no nosso País os recursos financeiros da UE, mais que em outras dimensões menos fundamentais, fossem efetivamente canalizados para um Plano de Ação para recolha, conservação e gestão da água, a começar já neste Inverno.

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