A opinião de ...

O valor do Encontro

O individualismo percebe no indivíduo o bem supremo e fundamental, ao que se deve subordinar todos os interesses da sociedade ou comunidade.
Por isso, tende a limitar a participação da pessoa na construção da sociedade e o que é pior ainda, o seu próprio bem é considerado em oposição ou contradição com os demais, pelo que os outros são vistos como competidores, até como inimigos, não como colaboradores nem muito menos como um dom.
Olhando para a sociedade atual podemos constatar que vivemos numa sociedade muito individualista, neste sentido!
Ainda que muitas vezes se compreenda esta dinâmica social, em que a reivindicação individualista até faz algum sentido e reúna algum valor, face aos mecanismos de homogeneização, de pensamento único, dos ditames atitudinais e dos gostos públicos, sociais, desportivos, políticos, etc, como um mimetismo coletivo, ditado por grupos influenciadores e outros, deixa, no entanto de o ter, quando se hipertrofia e se converte em pensamento e ação excluidora.
Escreveu um dia o filósofo judeu Martin Buber, tantas vezes ouvi citado na Faculdade de Teologia, que “no começo é a relação”, para referir a importância do encontro, entre um eu e um tu, que não é justaposição, mas sim um encontro.
Às vezes uma relação de proximidade, de diálogo, de conhecimento, mas principalmente de pessoas, como uma graça, um dom, onde nos podemos dar conta de que existimos graças aos outros e que necessitamos imprescindivelmente dos outros para existir, para sermos o que somos chamados a ser.
Qualquer pessoa não pode ser sem a comunidade onde se insere e a vida não se desenvolve sem ela.
O erro é pensarmos que qualquer pessoa pode ser sem raízes, sem vínculos, sem dependências sociais, sem história e sem laços.
Ainda que a comunidade não seja um reino homogéneo onde todos participam da mesma forma, contudo ela é imprescindível e ela existe no respeito pela singularidade de cada um e no estabelecimento de relações de mútua benevolência, de bem querer, entre todos, que se ajudam mutuamente na tarefa de existir.
Na Páscoa que se aproxima, envolvidos e desafiados a perceber os significados que deste acontecimento fundamental sobressaem, podemos descobrir que em todo o tempo e vivência(s) de Jesus Cristo o que está em causa também são as relações, as interações com Deus e uns com os outros, sob o signo do Evangelho!
Nesta medida, quando nos focamos na cruz, não vemos lá só o seu protagonista, mas a toda a humanidade, como algo constitutivo e decisivamente existencial.
Assim a Páscoa nos dê este sentido de encontro, à Igreja, à sociedade e ao mundo.

Edição
4032

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