A opinião de ...

Pobreza, desigualdade e classe média

O problema da pobreza, que não é por opção religiosa ou filosófica, não é apenas um problema dos pobres.
Desde logo, porque o pobre é uma pessoa como nós e, na perspetiva cristã, é mais, é irmão, e nesta medida, a sua pobreza toca-nos como um problema de humanidade, de dignidade e de fraternidade.
Por outro lado, crê-se haver no mundo bens suficientes para todos, de modo que estes deviam chegar equitativamente e de forma justa às vidas de cada um.
Daqui que os dados divulgados pelo Eurostat, neste mês de outubro, sobre a pobreza e a desigualdade em Portugal, que nos evidenciam que são 2,3 milhões os portugueses, 22,4% da nossa população, que se encontram em risco de pobreza ou exclusão social, deviam-nos fazer pensar bem de como fazer para que se erradiquem.
Em Portugal, a base da pobreza é um pouco diferente da dos outros países, isto é, está mais associada, quase na totalidade, à toxicodependência, às doenças mentais, ao desemprego, aos baixos salários e às baixas pensões na terceira idade.
Já quando olhamos para a desigualdade, a que não resulta do mérito pessoal, que se traduz na diferença de rendimentos entre pessoas, famílias e até países, na disparidade da repartição da riqueza, quando uma pequena percentagem da população acumula a maioria dos rendimentos, e a sua evolução ao longo do tempo, passamos do paradigma dos pobres vs. ricos para algo que hoje se vê mais: os muito ricos contra os restantes.
Esta é uma evidencia que vamos sentido cada vez mais pois, com o agravar da crise e do aumento dos fatores de exclusão social e de pobreza, há um desgaste significativo em outro sector, aquele que se designa por classe média, que vai colocando mais pessoas em risco de pobreza.
Este problema tenderá a agravar-se com o continuar da guerra na Ucrânia e a subida da inflação e que se constitui como um obstáculo poderosíssimo para o nosso próprio desenvolvimento e crescimento económico.
Nesse sentido devemos ter não só medidas de combate à pobreza, mas também que garantam que largos setores da população que não estão na situação de pobreza, mas que sofrem os efeitos da crise, a classe média referida, tenham capacidade de resistir e de enfrentar as dificuldades.
Combater a pobreza na frente assistencial, na frente promocional, cabendo um papel fundamental à Escola no desenvolvimento de competências pessoais e especialmente na frente estrutural, que incide nas estruturas políticas, económicas e sociais. Combater a desigualdade por políticas distributivas e com progressividade fiscal justa e coerente.
Ninguém tenha dúvidas, o combate à pobreza e à desigualdade é também decisivo para que todos tenhamos, como País, um desenvolvimento mais seguro e sustentado.

Edição
3907

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