A opinião de ...

Os Bispos de Bragança-Miranda

Há Bispos que nos preenchem e que compreendemos ao crescermos. Com face humana, mas magnética para lá do humano, presente como um discípulo e apóstolo de Jesus Cristo, forma concreta da Sua vida e mensagem. Infundido da Fé pelo Espírito Santo, com Caridade na acção e capaz de despertar a Esperança em todos os que buscarem o transcendente para a vida, de ser instrumento de Paz. Por isso, embora a ter de comer e beber, de dar satisfação às preocupações de haver ou não peixe, o seu foco teve e tem de saber responder à ansiedade e desesperança de cada um, de despertar luz e amor no mais aflito dos corações. Apontando para a vida além da vida, para a comunhão na eternidade, com Deus. Tem havido Bispos que abdicam da sua vida para se dar à vida dos outros. Em nome d’Ele. Sem reservas nem aderir a modas, dispostos a fazer tudo o que Ele lhes diz. Como bons-pastores, sem medo de que nada falte porque conduzidos por Ele.
Os Bispos de Bragança-Miranda não têm, nunca tiveram, uma Diocese fácil e nós, o seu rebanho, sempre nos mostrámos difíceis. Estamos muito na dimensão do temporal em vez de na do espiritual, interesseiros nas nossas conveniências, a querermos impor (flagrantes ou dissimulados) as nossas agendazinhas e egoísmos. No fundo, imaginamos a salvação com critérios nossos, remetendo o Seu para um armazém de outro tempo e lugar. Por isso, os Bispos eleitos para cá têm tido uma missão impossível: somos difíceis de convencer, não temos humildade, não reconhecemos a pouca vontade de aderirmos à justa e extraordinária exigência de Cristo, de colocarmos acima de tudo o Amor, por Deus e pelo próximo. Em boa parte, a responsabilidade da nossa Diocese ser difícil deve-se a nós, leigos e padres. Não em conjunto, mas a cada um, a começar na consciência de cada um. Porque buscamos na Igreja formas de levarmos as nossas opiniões em vez de a escutarmos sobre as nossas interrogações; arvoramo-nos no “direito” e petulância de querermos dizer a Cristo as formas modernas das coisas em vez de procurarmos em Cristo as formas eternas de solução das ansiedades e desesperanças do nosso coração. Em vez de O ouvirmos, preferimos afirmar “a Igreja somos todos, o seu povo” usando esta expressão verdadeira de forma falsa, porque em nosso nome e não no d’Ele. Por isso, a postura do nosso clero reflecte as nossas convicções – ou a falta delas. Quando nos queixamos que haja padres mais clericalistas, outros mais anticlericais, com a sua agenda pessoal, com Fé e outros sem ela, com o olho no temporal, mais interessados em deixar pedra sobre pedra do que em desfazer os muros que impedem a Luz de entrar – devemos queixar-nos de nós próprios. Connosco é muito difícil ser-se um Pastor de Pastores.
Em todas as missas temos rezado e pedido a Deus que nos envie um Pastor empenhado no ministério e dócil ao Espírito Santo, de tal modo que governe [a Diocese] com suavidade e firmeza, fortificando-a na fé, na esperança e na caridade. Ora, diria que Deus não precisaria desse nosso pedido. O que devemos pedir a Deus, é que nos deixemos empenhar no ministério que esse Pastor nos proponha, sejamos nós dóceis ao Espírito Santo e a querermos que nos governe com a força e firmeza necessárias, procuremos nós fortificar-nos na Fé, na Esperança e na Caridade. O saibamos acolher para que sejamos nós bem acolhidos, um dia, por Aquele que no-lo envia. Não o obriguemos a sacudir o pó das sandálias e a ter de ir pregar para outra cidade.

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3914

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