A opinião de ...

Humanismo Crítico – homenagem a Manuel Reis

É um imperativo escrever algumas palavras sobre este grande pensador e filósofo português Manuel Reis, falecido no dia 20.06.25. A sua vida é uma aventura extraordinária e invulgar, que testemunhei durante cerca de cinquenta anos de convívio desde 1972, na Covilhã, e ao longo do tempo, já ele e a Lillian em Guimarães, a Maria da Conceição e eu no Porto.
Não vou relatar a história deste intelectual denso e estudioso profundo do que se passa à sua volta. Nascido em Cantanhede, ali sentiu o trabalho nas gândaras desta terra, de camponeses laboriosos. Ordenado padre, foi enviado para Roma pelas suas elevadas qualidades de inteligência, argúcia e temperança – no horizonte esperava-o uma vida intensa na hierarquia da Igreja. A sua inquietude intelectual conduziu-o a mundividências múltiplas para além da teologia: a filosofia, a sociologia, a música, a economia. De regresso a Coimbra, vindo de Roma, abandona a Igreja, sem nunca a abandonar (?!), e que, curiosamente, nunca lhe retirou o múnus de que fora “incumbido”. Mas fez-se silêncio confrangedor do poder religioso, político e administrativo, sendo-lhe negado o reconhecimento de algumas das suas formações académicas.
Tivemos o ensejo, a minha mulher e eu, de receber, devidamente autografada, a maioria da sua longa produção filosófico-ensaística, tratados de reflexão e questionamento que, pessoalmente, me obrigam a leituras atentas. Como se lhe referia Rosemary O`Connor (professora de Literatura e História Portuguesa) na Revista A Página da Educação, on-line, n.º 180, Julho de 2008: «É na defesa de Jesus homem, político e mítico-místico, que Manuel Reis e a nossa alma buscam libertar-se. É, aqui, que o filósofo pensa o Mundo, reconstruindo-o à luz do Todo Humano para nos humanizar, falarmos do Amor, porque a Liberdade só existe com Amor».
As suas obras não compensatórias economicamente – pois não é verdade que as revistas literárias e filosóficas o silenciaram entre nós, mas escutado e lido no Brasil, em Itália, na Alemanha, nos Estados Unidos? – procuram a razão de ser da nossa existência como Humanos.
Aliás, a mesma autora acrescenta: «Para sabermos o que é o Portugal cultural de hoje é preciso aprender a ler Manuel Reis, estabelecer em nós uma linha de comunicação que alcance Sócrates e Jesus, e entre eles, Reis e Nós»!
Na última obra – As Duas Revoluções Gémeas (Edicon, S. Paulo, 2023) – estabelece a evolução entre o estado atual do processo civilizatório do Homem (Homo Sapiens Sapiens, do Cro-Magnon, não somente Homo Sapiens, do Neanderthal, como erradamente se publica) e as alterações climáticas. Refere a relação entre o sistema neocapitalista e a crise climática, afirmando, esperançoso: «Se o Homem for capaz de transitar do livre arbítrio para a liberdade responsável, poderá salvar o Planeta, todavia libertando-se do consumismo e da adoração do lucro – os maiores obstáculos da Igualdade e da Fraternidade». Afinal, a defesa crítica do Humanismo, pois o Homem detém a capacidade e a responsabilidade de escolher a sua direção e de influenciar a sua evolução, a do Planeta, afinal, a sobrevivência da Humanidade.

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4046

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