A opinião de ...

Populismo – o que é?

Um só cuidado os Príncipes devem ter, que é guardar em todas suas obras o proveito dos súbditos, e esquecer os próprios desejos. (Infante D. Pedro, séc. XV).
Não sou politólogo nem sociólogo nem psicólogo nem antropólogo. É na observação do ambiente social, na experiência de fatos conhecidos (esta expressão ‘fatos’ desconcerta-me…,) e nas leituras sobre populismo (tema complexo) que me baseio para fazer breves reflexões, excluindo a indicação dos diversos populistas no longo da História e seus modelos atuais.
Primeira: há diversas aceções de populismo. Ouvimos frequentemente dizer “populismo”: o Papa, a presidente da Comissão Europeia, o Presidente dos EUA, o Presidente da República Portuguesa e tantas outras personalidades sobre sinais que colocam em causa o equilíbrio da democracia, um alerta social, um desvio à democracia. Outra versão de populismo é utilizada por agentes políticos extremistas, portadores de mensagens imediatistas sobre assuntos que levam o seu tempo de resolução, porque são problemas genuinamente políticos, criticando a classe política. Outros acenam que o populismo é uma ‘arma’ usada pelos que detêm competência em matérias políticas, porque detentores do saber especificamente político, cabendo aos técnicos fornecer indicações técnicas, nunca sobre o que e quando fazer. Os diversos populismos podem influenciar a opinião pública (António Bento, Populismo e Democracia, Edições 70, ps. 71-95). Se atentarmos na presente vivência democrática, por certo poderemos acrescentar que se trata de «uma política necessária para reanimar a democracia, ou, como outros pretendem, será uma sombra permanente da moderna democracia representativa e um perigo constante» (Diogo Aurélio, idem, ps.131-133).
Segunda: Face ao apenas aparente afastamento do povo relativamente a assuntos que lhe respeitam (saúde, habitação, educação, trabalho, segurança social, participação na vida da civitas…), surgem, atualmente, espantalhos demonizando a classe política, dizendo-se fora do sistema, mas dele se servindo, acenando com fantasmas. Julgam que o povo é irracional – algo que não devemos perfilhar.
Terceira: Quanto a mim, os “populismos”, seja qual for a sua natureza e origem, vingam exactamente porque: (i) os nichos de conhecimento têm vindo a empobrecer-se em linguagem e sua compreensão; (ii) é deficiente ou difusa ou irrealista a informação constante das propostas dos partidos em momentos eleitorais; (iii) é reduzida a intervenção de alguns média sobre literacia social e política. Ora, quanto mais variadas e diferentes forem as fontes de informação, eticamente genuínas, mais preparados estaremos para refletir criticamente sobre as mensagens que nos chegam.
Quarta: A democracia alimenta-se de participação e de reflexão. E de servidores inteligentes e diligentes da res publica, que ouçam o povo, não se apegando ao poder pelo poder. Também de uma comunicação social isenta, sem moralismos. Os partidos e os movimentos de cidadãos, legitimados, deverão prometer somente o razoável e racional nos termos legais e constitucionais. Quem se oporá à valorização do direito à liberdade individual e responsável, ao dever da tolerância, ao respeito pelos outros, pela vida em comunidade e pela boa governação? Reparem: por outras palavras e noutro contexto, tal era defendido por D. Pedro em carta enviada de Bruges ao seu irmão, o Rei D. Duarte!

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3865

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