A opinião de ...

A imposição pagã do pai-natal

Vivemos um período belo de luz e de cor que preenche as avenidas e ruas das nossas comunidades. O Pai Natal revela-se como que o elemento comum deste colorido.  Todavia, sempre me inquietou – e continua a perturbar-me – como é que num estado dito laico e democrático se permite à imposição, em forma quase ditatorial, na consciência social comum esta “nova” forma-fórmula de expressão de substituição religiosa do Natal-Encarnação. É nos colocado a ideia de que o natal é natal sem a razão do natal, sem Deus-Menino, sem o Dom da Encarnação. Tudo parece dado como adquirido. Mais, não há nem é permitido qualquer possibilidade de contradição. Pergunto: se num Estado Laico, Este (o Estado) não pode nem deve assumir uma confissão-crença religiosa e/ou qualquer linha de religiosidade (o religioso parece estar “apenas” ligado à esfera pessoal dos seus concidadãos), como é que se entende que o Estado seja o grande promotor desta alteração do (dito) “espírito natalício” que, alimentada desde logo nas Escolas e a partir dos seus Programas Escolares, está disseminada nas ornamentação das vias e espaços públicos, e que, no sentido de erradicar a palavra “santo” do oralidade social comum, introduz outros conceitos ligados à magia e ao magicismo? Pior, se assim é, porque razão nós, católicos, não nos impomos, de forma mais assertiva (até impetuosa), contra esta imputação geral de uma outra divindade que quer – e parece estar – a alterar o paradigma e o sentido transcendente e transcendental do Dom gerado na Encarnação? E mais grave até, é a comercialização de ditos presépios que parecem presépios – mas que são só isso mesmo, ou seja, só parecem e não são! – e que sob a ideia do abstrato e do relativismo interpretativo desvirtuam a essencialidade do sinal amoroso de Deus e que, na Sagrada Família de Nazaré, Deus expressa plenamente o dom magnífico da Sua bondade e da Sua ternura à humanidade faminta d’Ele e perdida sem Luz.
                  Parece haver a pretensão de subtrair da consciência social comum o sentido divino e sagrado do Dom gerando na Encarnação, fazendo-nos esquecer que é Ele quem nos eleva à condição de divino. Neste mundo agressivo e competitivo, o paradoxo do despojamento cristão, expressado finamente na Encarnação, continua a perturbar e a incomodar. O Natal de Jesus é a comunicação da concludente libertação deste mundo agressivo; é o lugar da transformação, da mudança de forma; é o tempo de nos emanciparmos desta cultura dominante hedonista, narcisista, impositiva, magicista, vaga e de experiências porosas, para nos deleitarmos definitivamente na ternura, na meiguice e na bondade do Deus de Amor. Lanço-lhe, caro leitor, um desafio aliciante: seja agente primeiro desta mudança, elimine das suas casas tudo o que liga a este “pai-natal” de divinização pagã e encha-se de tudo o que o aproxima da meiguice e da ternura inebriante deste Deus-Menino. Só por mera curiosidade, a Unidade Pastoral Santo António tem vindo a promover a eliminação na oralidade social comum da figura pagã do pai-natal e dos objectos ligados a este, convidando os fiéis crentes à colocação de Deus-Menino no centro destas festividades, quer sob bandeiras com a imagem d’Ele no exterior de suas habitações, quer no interior das mesmas com as Coroas do Advento e os Presépios da Sagrada Família de Nazaré: Jesus, Maria e José. Que possamos, juntos e todos, ser agentes de transformação. Deus conta consigo! Aceita o desafio?

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