Bragança

Jorge Nunes dá mais um contributo para a discussão da ferrovia com novo livro

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2023-07-13 16:09

O antigo presidente da Câmara de Bragança, António Jorge Nunes, deu mais um contributo para a discussão da ferrovia nacional com o lançamento de um livro sobre o tema, no passado dia 05.

“Ferrovia em Trás-os-Montes, Memória do passado, luta do presente” foi o livro apresentado no Teatro Municipal de Bragança, perante uma plateia repleta.

“Acho que pode servir como um bom instrumento de entusiasmo no sentido de se continuar a equacionar a luta pela moderna ferrovia para Trás-os-Montes numa perspetiva imediata no que diz respeito à inclusão no Plano Ferroviário 2030”, começou por explicar o autor.

“Essa é a nossa tarefa imediata. Exigir a inclusão de uma linha moderna, capaz, com ligação europeia”, frisou.

Por outro lado, “depois da inclusão, é, naturalmente, assegurar uma luta continuada pelo planeamento da sua construção na perspetiva de que, creio eu, no Norte 2040, o próximo quadro comunitário, possam vir a ser atribuídos apoios financeiros da União Europeia a esta importante ferrovia”, disse.

Jorge Nunes lembrou que “da parte da União Europeia há uma aposta e uma orientação aos estados membros no sentido de consolidar a rede europeia de transportes”. “Fazer interligações, conectar os países, tornar a economia mais competitiva, com transportes mais económicos e menos poluentes. E a ferrovia surge no quadro de transportes, de passageiros e de mercadorias, como um meio de transporte muito competitivo, amigo do ambiente, de baixas emissões.

Creio que entre 2030 e 2040 seria um bom timing para conseguirmos a construção dessa via. Creio que o país por si tem dificuldades financeiras, vai continuar a tê-las mas, de facto, a realidade é nova. A UE faz uma aposta neste meio de transporte, tem meios financeiros significativos alocados aos estados membros alocados para este efeito e, por isso, os transmontanos não podem baixar os braços, têm de alimentar a esperança de poder vir a ter uma ferrovia moderna e tornar a sua economia mais competitiva e o território mais coeso.

Portanto, todas as iniciativas que vierem a surgir, seja através de publicações nos jornais, em livros, seja de seminários, conferências, etc, tudo vai somar. Todos temos de nos preparar para desenvolver esta luta com algum entusiasmo e com convicção na certeza de que as coisas não acontecem do dia para a noite. Quando olhamos para o plano rodoviário de 2000, ainda não tem a ligação a Puebla de Sanabria concretizada e já passaram duas décadas. E outras vias importantes de que a região carece, relativamente às quais existiram já compromissos políticos importantes, não estão construídas. O país, nos últimos anos, acumula dificuldades acrescidas relacionadas com a dívida pública, com a disponibilidade de menos recursos para o investimento público, com níveis de investimento baixíssimos. Portanto, esta realidade não muda de um dia para o outro. Não muda provavelmente nos próximos anos. O que significa que, apesar disso, a nossa perspetiva deve ser a de que não podemos deixar de levantar esta bandeira com convicção, com racionalidade e com a perceção daquilo que é possível e viável”, sublinhou.

Este é o terceiro livro lançado por Jorge Nunes. O tema começou a ser tratado em 2014, no âmbito de um projeto inicial que o antigo autarca acabou por desagregar em temas independentes.

“Em 2014 suspendi este trabalho por causa das novas funções que assumi. Depois de as deixar em 2020, retomei a escrita, editei o livro de Contributos para o desenvolvimento do Interior, o dos Congressos e peguei neste tema que tinha deixado para trás.

É uma coincidência relacionada com o plano ferroviário 2030. Houve dois momentos de discussão pública. Participei nos dois com um documento próprio. Coincidiu agora a publicação”, precisou Jorge Nunes.

O antigo autarca explicou que “havia alguns aspetos relacionados com o encerramento da ferrovia que, para [si], não eram claros como tinham surgido, que compromissos teria havido da região para que o Governo pudesse avançar com essas propostas de encerramento total”.

“Também outros temas que tinha incluído e que previa uma publicação com alguns temas, este era um deles. Percebi que o desejável era desagregá-los. Estou nesse projeto, que pretendo continuar a desenvolver. Até ao momento já estão alguns desses capítulos extraídos de forma autónoma e espero, se tudo correr bem, poder continuar a dar um contributo à comunidade através da escrita”, explicou.

Jorge Nunes admite que da pesquisa que fez, houve algumas situações que lhe chamaram à atenção.

“Na linha do Sabor a luta foi muito intensa. Fiquei até surpreendido com a recolha de informação relativa à posição que a população tomou, muito firme, de contestação, sendo que o poder político, na altura, já estava de algum modo sensível ao encerramento progressivo, em compensação de alguns investimentos na rodovia necessários aqui para o distrito. Mas a população foi corajosa.

Na linha do Tua houve algumas manifestações posteriores mas acho que a linha do Sabor foi, de facto, onde a luta foi mais firme e afirmativa. Aqui, o compromisso político com o encerramento já era muito avançado.

Com a linha do Corgo, a manifestação de oposição foi muito reduzida.

Não critico porque a carência da região em termos rodoviários era enorme, por um lado, e, por outro, o serviço ferroviário tinha atingido um tal nível de degradação que a população já tinha pouco amor a esse meio de transporte. Foi mais fácil para o Poder Central impor o encerramento de uma forma sem honra nem glória, numa perspetiva de discriminação negativa total sobre a região.

Mas acho que o poder político, a nível local e regional (deputados) não estava suficientemente reivindicativo e mais orientado para a necessidade de modernizar as estradas do que propriamente alimentar uma luta pela manutenção e um serviço que não tinha qualidades mínimas para servir a população.

Nessa altura, aquilo que se impunha era reivindicar uma moderna rede de estradas para a região e a modernização da rede ferroviária.

O que temos de fazer agora é o que aconteceu no final do século XIX, iniciar uma luta por uma nova ferrovia.

A nossa obrigação perante as novas gerações é não abandonar esta luta.
O próximo tema é o património.

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