Bragança

‘Língua’ o espetáculo mais acessível que subiu à cena no Teatro Municipal

Publicado por Glória Lopes em Qui, 2023-04-06 09:32

O Teatro Municipal de Bragança (TMB) recebeu na passada quinta-feira ‘Língua’, um espetáculo bilingue levado à cena pela Companhia Estrutura, onde é utilizada a Língua Gestual Portuguesa (LGP) e o português, tradução e audiodescrição.
Tratou-se de uma peça que usou a LGP como veículo primordial de comunicação, e a maioria da assistência [com audição e visão] que constituia a plateia foi confrontada com o lugar do outro, ou seja, dos que não veem, nem ouvem, mas vivem todos os dias numa sociedade pouco inclusiva, que não está preparada para eles. “A ideia é que nos coloquemos no lugar do outro e que os ouvintes se coloquem na realidade inversa”, explicou o diretor do TMB, João Cunha.
A iniciativa contou com a presença de um grupo de cerca de 20 pessoas invisuais ou surdas, mas Claúdia Martins, investigadora e professora de línguas no Instituto Politécnico de Bragança (IPB), acredita que podiam ter chegado a mais gente, só que não se sabe onde estão. Desconhece-se quantas pessoas têm incapacidade visual e auditiva no distrito de Bragança, porque o levantamento não está feito. “Não há uma recolha de dados em Bragança. Há pouco conhecimento também a nível nacional, mas em Bragança é ainda pior. Há pouca informação das autoridades sobre onde estão estas pessoas e, quando se sabe onde estão também, é difícil trazê-las cá [TMB]”, referiu Claúdia Martins, professora de Inglês e investigadora do Instituto Politécnico de Bragança, salientando que “eles [surdos e invisuais] não se isolam. Foram obrigados a ficar isolados”, acrescentou.
A protagonista do espetáculo foi Joana Cottim, professora de LGP, atriz e um dos três atores surdos a trabalhar em Portugal, que elencou uma série de constrangimentos que as pessoas com estas incapacidades enfrentam no quotidiano. “Estou em palco para dar espaço à minha língua, para a mostrar e para lhe dar espaço. É importante estimular a acessibilidade no teatro, na arte e na cultura, mas é preciso que isso seja feito de uma forma boa. Não é só fazer Língua Gestual e já está. É preciso perceber como se faz a LGP e como é que chegamos às pessoas surdas”, descreveu Joana Cottim.
O espetáculo foi dos mais inclusivos que subiu ao palco do Teatro Municipal de Bragança, porque teve Língua Gestual Portuguesa (LGP), projeção de legendas (para quem não domina a LGP), tradução e audiodescrição para invisuais.
José Nunes, um dos diretores da Companhia Estrutura, disse que o espetáculo é bilíngue e que “a língua gestual passou para a primeira linha não ficando remetida para um cantinho e isso nos dias em que existe, que são exceções. A LGP passou para o centro de cena”, sublinhou.

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