A opinião de ...

15 de Março de 1961 – Início da Guerra do Ultramar!

O ano de 1961 indiciava um péssimo prenúncio para o Estado Novo e para o presidente do Conselho de Ministros António Oliveira Salazar. De facto, a 22 de janeiro, o oposicionista capitão Henrique Galvão desencadeou a Operação Dulcineia e o decorrente sequestro do paquete Santa Maria, que dá um mediático brado internacional. Depois, a 4 de fevereiro ocorre o assalto armado à cadeia de São Paulo, casa de reclusão, posto de polícia e da alfândega, por cerca de duzentos ativistas negros armados de catana e algumas rudimentares armas de fogo, que retira a cidade da pacatez prevalecente e origina sete mortos.
Então, entre 15 e 18 de março, aos gritos de maza, maza, os guerrilheiros da União dos Povos de Angola de Holden Roberto (UPA), crentes na invisibilidade face aos homens brancos e que as balas destes se transformavam em água quando os atingiam, sacudiram o Norte de Angola com uma inaudita brutalidade assassina. Milhares de bacongos, empunhando catanas e canhangulos, transpõem para Sul a fronteira do Congo, irrompem nas fazendas e postos administrativos de São Salvador e Quimbele, varrem a baixa de Cassange e envolvem a cidade de Carmona. Quase mil colonos brancos e milhares de africanos, entre homens, mulheres e crianças, são assassinados, violados ou esquartejados, as fazendas são queimadas, as plantações de café e de algodão arrasadas e as estradas cortadas. O objetivo de Holden Roberto, sossegadamente instalado, nessa altura, em Nova Iorque, era acabar com a presença portuguesa no território, aterrorizar e submeter as etnias não baconga e tornar Angola independente sob a sua égide, mediante patrocínio político-financeiro da administração Kennedy e o refúgio do Congo de Mobutu. Enquanto na metrópole as notícias eram silenciadas, em Angola o terror tomava conta das populações e a insegurança sentia-se pela primeira vez.
Mas Holden Roberto esbarrou nas suas contradições. Não só as populações autóctones não se submeteram, como a reação dos colonos brancos foi imediata e também ela brutal, complementada com a decisão de Salazar em fazer de Angola um exemplar caso de pacificação. Na verdade, o seu maior erro residiu no despropósito da ação empreendida, que colou o movimento a um primitivo tribalismo africano, mal-aceite internacionalmente e que deu brado na ONU, inquietou Washington e motivou Lisboa ao lançamento de campanhas militares de pacificação sem contemplações. Assim, as milícias de colonos brancos, armadas até aos dentes, defendem as fazendas e rebuscam violentamente sanzalas e tabancas na região, a noroeste de Luanda. A Força Aérea bombardeou povoados nos distritos de São Salvador, Congo, Kwanza Norte e Malange e os monomotores da Esquadrilha de Voluntários do Ar estabeleceram uma improvisada ponte aérea entre Luanda e o palco do terror. Na metrópole, Salazar, que demitiu o general Botelho Moniz e assumiu também a pasta da Defesa Nacional, proclamou na RTP, a 13 de abril, a necessidade de «andar rapidamente e em força» para Angola. Deste modo, a 21 de abril embarca em Lisboa, no navio Niassa, o primeiro contingente militar, que desfila em Luanda a 1 de maio de 1961. Iniciavam-se, sob o comando do general Silva Freire, as operações de reconquista do Norte de Angola, a missão de barrar a fronteira e cortar contactos da guerrilha de e para o Congo, abrir itinerários e sossegar as populações. Para o efeito, decidiu-se pela reconquista da zona dos Dembos e planeou a Operação Viriato, destinada a reocupar Nambuangongo, objetivo alcançado a 9 de agosto.
Porém, o que para o poder português se assumiu como uma campanha de pacificação, tornar-se-ia uma campanha militar de desgaste estendida no tempo e no espaço, que duraria treze longos anos em Angola, onze na Guiné, depois de o PAIGC de Amílcar Cabral iniciar hostilidades em 1963, e dez anos em Moçambique, após a Frelimo de Eduardo Mondlane pegar em armas a partir de 1964.

Edição
3927

Assinaturas MDB