A opinião de ...

“Isto é intolerável

Rui Ribeiro, Presidente da ANSR, a terminar a entrevista publicada pelo JN, na sua edição do passado domingo (também emitida e disponível na rádio TSF), dia 5 de março, pags. 8 e 9, disse o seguinte: “A sinistralidade rodoviária é a primeira causa de morte entre os 5 e o 29 anos, e a maior parte das pessoas não tem consciência disso. A nossa geração mais jovem, … está a morrer nas estradas. Isto é intolerável”.
Para a OMS, os acidentes rodoviários e as suas consequências são o mais grave problema de saúde pública, a par com as doenças mentais. Porém, as consequências dos acidentes na estrada medem-se também ao nível social, económico e da segurança pública, tornando-se uma problema global que afeta a sociedade no seu conjunto. Tanto assim é que o seu impacto em Portugal já equivale a 3,05% do PIB, conforme é referido no início da entrevista e tendo em conta um estudo científico divulgado em Outubro de 2021.
O número de acidentes registados, tanto em Portugal como na Europa tem vindo a diminuir. Entre 2010 e 2019 essa diminuição foi de 31% no número de mortes na Europa. Em Portugal diminuiu 33,2%, passando de 937 em 2010, para 626 em 2019 (RASI 2019). Mas continuamos como o sexto país mais mal posicionado, com a média de 63 mortes anuais por 1 milhão de habitantes.
Os fatores que condicionam a segurança rodoviária estão associados ao homem, ao veículo e à estrada. Mas o valor de cada um não é o mesmo. A estrada existe para o veículo e ambos se destinam a ser utilizados pelo homem, na sua realização pessoal e social, na inter-relação com os outros e com o meio. Como refere Renouard (2000), “toda a gente tem de ter em conta toda a gente”. A atividade complexa da condução exige um equilíbrio perfeito entre estes três tipos de fatores. Quando esse equilíbrio se descontrola acontece o acidente. Cabe às pessoas, enquanto condutores, peões ou qualquer outra forma de utilização da via pública (ciclista, patinador, utilizador de trotinete, etc.) adotar atitudes e comportamentos preventivos e de segurança. Como refere a OMS “o acidente é evitável” e a capacidade de empatia de cada interveniente é possível e facilitada porque cada um, em momentos diferentes, desempenha papéis diferentes no sistema rodoviário.
Na mesma entrevista é referido que “30% das vítimas mortais autopsiadas … acusam álcool, e 2/3 destas vítimas acusa uma taxa crime”. O abuso do álcool é uma das quatro causas mais apontadas pelos estudos disponíveis e pelas estatísticas, sendo as outras o excesso de velocidade, a não utilização do cinto de segurança e sistemas de retenção e a utilização do telemóvel, todas causas associadas ao fator humano. Segundo alguns especialistas deve acrescentar-se como causa importante a falta de manutenção do veículo, apesar da inspeção periódica ser obrigatória a partir de determinada idade, com realce para o uso de pneus gastos, travões em mau funcionamento, direcção e suspensão ineficientes.
Para atingir o objetivo já conseguido por Espanha – 36 mortes/ano por milhão de habitantes – além da nossa educação enquanto cidadãos, é necessário que a fiscalização desempenhe um papel mais eficiente e eficaz e o condutor deixe de ter a perceção da caça à multa ainda muito prevalecente.

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