A opinião de ...

(Re)Pensar a Educação Artística na escola

A escola foi, durante muito tempo, um espaço de ensino, onde se valorizava, sobretudo, a leitura, a escrita e o cálculo. Os professores, marcados pelos rituais do passado, observando as exigências da introdução das artes no currículo, continuam a demitir-se da sua exploração, assumindo que retiram tempo necessário às matérias ditas prioritárias. A educação artística entra, no dia a dia da escola, essencialmente, para colmatar tempos mortos ou como uma recompensa, após as crianças terem realizado uma atividade de português ou de matemática (tidas como áreas nobres do currículo). Persiste, assim, a ideia, trivializada, de que as artes são formas de entretenimento, na medida que são entendidas como meras diversões em relação às inquietações da vida, a partir das quais nada de importante se pode aprender. É de realçar que esta conceção advém de um conjunto de pressupostos errados que passam pela dificuldade de perceber a utilidade das artes na educação. Se pensarmos sob o ponto de vista do valor das artes, tendo em conta vários estudos e relatórios internacionais, há razões para afirmar que estas deveriam ser a base da educação dos indivíduos, uma vez que promovem a imaginação, a criatividade e o pensamento crítico, capacidades extremamente importantes para o progresso e sustentabilidade. É, portanto, dever da escola proporcionar à criança experiências variadas e significativas no âmbito da educação artística, para que esta tenha oportunidade de experimentar novas formas de ver, ouvir, sentir, imaginar, pensar, criar e comunicar. O desenvolvimento de projetos artísticos, em contexto educativo, possui um enorme potencial para envolver simultaneamente diversas áreas do currículo, confluindo assim para uma epistemologia curricular transdisciplinar, promotora de aprendizagens integradas, significativas e perenes. Neste sentido, projetos alicerçados em metodologias adequadas à exploração das artes têm um enorme potencial para a consecução de alguns dos principais desígnios plasmados no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Contudo, a divergência entre o que se teoriza e a prática que se realiza nas escolas exige um grande caminho a percorrer.
Pretende-se uma mudança de atitude dos profissionais, mas também das políticas educativas, para que se criem possibilidades, sinergias e enfoques que superem o reducionismo e o minimalismo do aspeto curricular disciplinar tradicional e passem a valorizar a arte nas suas multidimensionalidades.

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3914

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