A opinião de ...

Bisotada

Trabalhos inadiáveis prendem-me ao chão quente escalabitano, impedindo-me de folhear calmamente a notável e monumental obra do sacrificado investigado e Mestre pedagogo Hirondino da Paixão Fernandes, no fito de ver qual é a sua definição do vocábulo Bisotada, o qual será: desmesura, excesso, abundância, no caso em apreço de fogos infernais, dantescos, pois o famoso poeta italiano na sua admirável obra dedica formidáveis poemas ao Inferno.
Ora, nesta época estival, ainda antes da chegada da sezão, as chamas irromperam violentas transformando largas manchas do território num mar de Fogo e Cinzas parafraseando o saudoso Manuel da Fonseca, companheiro veterano de estúrdia na Brilhante e na Solmar bem no centro de Lisboa.
Os buzinadores televisivos lançam torrentes de palavras sobre a causa das labaredas, enquanto as vítimas indefesas fazem correr rios de lágrimas faces abaixo lamentando a sua triste sina, recebem bisotadas de ruínas, chãos queimados, os tais terrenos quentes outrora ensopados em água caída na época a tempo e horas.
Por azar dos Nordestinos também o fogo sem freio ultrapassou a fronteira na pequena e graciosa aldeia chamada, não por acaso, Petisqueira bordejada pelo fio de água Rio Maçãs.
A floresta recebe reprimendas ao torto e ao direito, sucedem-se as catilinárias contra os proprietários de pequenos renques de árvores, matas ou bosques, no entanto, se analisarmos honestamente a realidade verificamos quão grande é a responsabilidade estatal neste domínio ante a passividade das restantes organizações até eclodirem as sarças ardentes a consumirem-nos fazenda, suores e sangue.
Os povos alvo da ferocidade dos fogos, na sua larga maioria, vivem e labutam no interior, não possuem grande poder de voto, as indústrias dos fogos e correlativas possuem, se me é permitido, trago à colação o velho anexim – quando o mar bate na rocha quem se trama é o mexilhão –, o mexilhão somos todos nós e os nossos descendentes. Até quando?
Até levarmos a sério a nossa condição de transitórios filhos de Adão e Eva, daí sermos obrigados a preservar sem fundamentalismos ao modo do PAN o Paraíso Terra, para nosso ensinamento pensemos no famigerado POL POT, nestes dias recentes, nos incidentes ocorridos no antigo Ceilão o qual está faminto, porque as autoridades impuseram o extermínio das seculares usanças agrícolas, como é exemplo o milenar cultivo do chá referido por Camões.
Não adianta chorar sobre o leite derramado, adianta o Governo cumprir e fazer cumprir a copiosa legislação em vigor, zelar de maneira robusta por um fazer/fazendo capaz e eficiente do nosso desenvolvimento rural (então senhora Secretária de Estado para quando o badalado cadastro?). Será desta? Não se atrapalhe. Responda!

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