A opinião de ...

Exaustos e esgotados

Ouvi muitas vezes, na meninice e primeira adolescência, referências ao facto de homens de Bragança irem noite fora colocarem-se no Monte de São Bartolomeu para verem o relampejar dos canhões, enquanto ribombavam e despejavam metralha nas terras vizinhas de Zamora no decurso da cruenta guerra entre irmãos que culminou com a vitória do fascista Franco.
Também, o Senhor Manuelzinho de Lagarelhos, enquanto cofiava as barbas patriarcais e contava as vespas, mortas com um vassouro sentado num talhoco nas tardes quentes do Estio, recordava episódios da guerra civil, do medo incutido por temível quadrilha de bandidos de uma aldeia do concelho de Vinhais. Os rapazes, ávidos no copianço, gastavam melhor as suas energias se investigassem os desatinos daquela época, por exemplo o concelho vinhaense esteve debaixo de estado de sítio, os rojos mataram um chefe da sinistra PIDE com a cumplicidade paga de um tipo cuja alcunha era Gabiru.
Muito mais tarde li páginas escritas pelo Senhor Artur (Mirandela) relativas aos pungentes dramas do conflito espanhol que os tremendos fogos na província zamorana me fizeram e fazem recordar.
Na primeira ida a Rio de Onor ao transpor o Marco divisório, teria uns treze anos, estava a pisar a serra da culebra a ora ardida, certamente, muitas víboras pereceram e demais espécies animais bem como os famosos ervanços (grão-de-bico) que são exportados dada a excelência da leguminosa.
As faces escalavradas, enxutas e esgotadas das gentes sofredoras, vistas e olhadas através das televisões (por cá do mesmo modo) transmitiam a impotência de quem nada pode ou podia fazer nos transes sofridos.
O fogo domesticado é a maior invenção do Homem, o fogo alucinado muitas vezes fruto de erros humanos, é sinónimo da nossa procura do limar as arestas existentes no progresso científico e cultural.
Armando Fernandes
Obs: Comportamentos indecorosos, criminosos, contra fugitivos ditos rojos sucederam-se nos arredores de Bragança. Ainda falei ao Dr. Bento da Cruz. Mas o autor de Planalto em Chamas preferiu dedicar-se ao incidente de Vinhais.

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