A opinião de ...

A ferradura de São Pedro

O dia estava quente, São Pedro acompanhava Jesus Cristo nas suas jornadas na Terra Santa, quando viram uma ferradura meia enterrada na poeira do caminho. O Santo fingiu não a ver, o Mestre dobrou-se, meteu a mão no pó ardente, recolheu a ferradura.
A jornada prosseguiu, Jesus Cristo vendeu a ferradura a um ferrador. O dinheiro obtido deu-lhe a possibilidade de comprar cerejas. O calor aumentou, distraidamente, Jesus deixou cair, no borralho da via, uma cereja, São Pedro lépido, dobrou-se, apanhou a cereja, sofregamente a meteu na boca dessedentando-se. O Mestre repetiu o acto, o Santo voltou a dobrar-se, a limpar a cereja, a refrescar-se, sucessivamente, até as cerejas acabarem.
A saudosa professora Dona Aninhas Castro contava vagarosamente a parábola de modo a todos os alunos (mais de 40) entenderem que nada se faz sem esforço, sem trabalho acentuando a necessidade de estudarmos, mesmo os repetentes eram obrigados a perceberem a lição dada por Jesus ao apóstolo tão popular nas nossas terras.
Na turma, mantida em ordem pela batuta (um arremedo de palmatória) da admirável Mestra, alguns rapazes eram de etnia cigana, ali ninguém discriminava ninguém. O Cordeiro mandava nos jogos de forças, o Francisco Cepeda e o António Afonso o podem confirmar, por ter sido assim e foi, fico perplexo ante o enxame de estudos, de testes, de técnicas, de teses, de queixumes e lamúrias de todos os dias procuram convencer-nos de que o ensino básico é bicho medonho, de nove cabeças tal como a Hidra. Se as Mestras pedagogas de antanho voltassem fariam milagres dado os meios e a redução do número de alunos por cada turma agora existentes. A Dona Aninhas usava a batuta parcimoniosamente.

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3889

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