A opinião de ...

Matematicamente pensando: Compreender os números

Vivemos numa época em que a procura de acordos, baseados na colaboração, na entreajuda e na negociação, faz parte do dia-a-dia das pessoas, das organizações e dos países de todo o mundo.
Um exemplo da procura desses acordos é traduzido pelo Jornal Público, 13/07/2015, no qual se afirma “Depois de uma verdadeira maratona negocial, que começou no domingo à tarde e só terminou nesta segunda-feira por volta das nove da manhã – uma das mais longas dos últimos anos –, os chefes de Estado e de Governo da zona euro conseguiram finalmente fechar um acordo que mantém aberta a possibilidade de negociar um terceiro resgate financeiro à Grécia, de um montante de 86 mil milhões de euros”. Não me vou pronunciar sobre o acordo, nem sobre as suas consequências. Questiono apenas, o que podem significar 86 mil milhões de euros.
Gosto de olhar para os números e interpretá-los tendo em conta situações concretas e números concretos, ou seja, números associados a alguma coisa que tenha sentido para as pessoas.
Para melhor compreendermos o que representam 86 000 000 000 (oitenta e seis mil milhões de euros) vamos associá-los a aspetos relacionados com Portugal.
Vamos imaginar que essa importância era distribuída, igualmente, pelos 18 distritos de Portugal. Quanto receberia cada distrito? Cada distrito receberia 4 777 777 778 euros. Se pensarmos no distrito de Bragança, com 12 concelhos, cada concelho receberia 398 148 148 €, ou seja uma importância próxima de quatrocentos milhões de euros.
Uma das obras emblemáticas para Trás - os - Montes e para o país é a autoestrada transmontana cujo custo inicial foi estimado em 375 milhões de euros, o que podemos deduzir que cada concelho poderia investir o equivalente à autoestrada transmontana, e ainda ficava com 23 milhões de euros, suficientes para construir 19 centros de saúde em cada concelho, utilizando como referência a informação seguinte: “De acordo com o protocolo assinado pela Câmara de Lisboa e a tutela em 2009, a construção dos seis centros de saúde, incluindo o já concluído do Bairro da Boavista, estimava um investimento de cerca de 7,1 milhões de euros” (TVI 24, 28-06-2012).
O desemprego continua a ser um dos grandes problemas do país. Sem pretender entrar em polémicas sobre o número de desempregados, admito para efeito da apreciação que se segue que Portugal tem aproximadamente 700 mil desempregados.
A questão que coloco é: se quiséssemos acabar com o desemprego e investíssemos os 86 mil milhões de euros nos desempregados, quanto se poderia investir em cada um? Utilizando a operação elementar divisão, ou seja, dividindo a importância referida pelo número de desempregados concluímos que cada desempregado poderia ter ao seu dispor a importância de 122 857 euros, o equivalente a 245 ordenados mínimos (500 €). Mas 245 ordenados corresponde a mais de 17 anos de ordenados. Assim, a importância de um só resgate seria suficiente para pagar o ordenado mínimo a cada desempregado português durante 17 anos, recebendo 14 meses por ano.
Em síntese, os oitenta e seis mil milhões de euros seriam suficientes para construir em cada um dos 18 distritos de Portugal, 12 autoestradas, cada uma com custos idênticos à autoestrada transmontana e respetivos túneis (idênticos ao do Marão) e ainda restavam mais de 500 € para cada um dos dez milhões de portugueses. As constatações apresentadas têm por objetivo alertar as pessoas para o sentido dos números. Acredito que se os governantes, gregos, portugueses ou de qualquer outra parte do mundo tivessem tido sempre presente o que significam os números teria existido um equilíbrio maior entre o que os países gastaram e as suas possibilidades para o poderem pagar.
Assiste-se diariamente a uma educação orientada para o destino, ou seja, atua-se e depois aguardam-se as consequências, em vez de cada um ser capaz de pensar e de prever as consequências no futuro, em função das ações desenvolvidas no presente. É fundamental ensinar as crianças e estimar valores, utilizando com facilidade as operações elementares. Ensinar a responder às questões: se gasto 5 € por dia, quanto gasto num mês? E quanto gasto num ano? E em dois anos? Se poupar 2 € por dia, quanto poupo num mês? E num ano? E em dois anos? ...
É muito importante tornar a matemática agradável, útil e disponível para compreender o mundo e resolver os problemas de uma forma rápida, eficaz e segura.

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