Negócio da China
A venda de eletricidade em Portugal é um autêntico negócio da China para quem comercializa esse bem indispensável. Literalmente, porque o grosso do negócio está nas mãos de uma empresa comprada por capitais chineses.
Com cada vez mais meios de autoprodução disponíveis, o cidadão comum não deixa de se questionar porque é que o excesso de produção própria (através de painéis fotovoltaicos, por exemplo) é injetado na rede muitas vezes de borla, outras a preços irrisórios, mas quando o mesmo cliente vai à rede buscar energia, já tem de a pagar quase a preço de ouro.
Algo vai mal no reino da eletricidade.
Para as operadoras, é uma renda garantida. O sistema funciona quase como um monopólio pois no mundo atual até os sistemas de distribuição de água dependem de eletricidade e sempre que esta falha, como se viu no apagão de abril, o caos ameaça instalar-se na sociedade.
Precisamente, o apagão, para o qual ainda não há respostas cabais quanto à sua origem (só algumas sobre o que não aconteceu), deveria ter sido o ponto de partida para uma reflexão aprofundada sobre a forma como funciona o sistema.
Numa conversa recente com o Prof. Vicente Leite, do IPB, e Rui Caseiro, Secretário Geral da CIM Terras de Trás-os-Montes, questionava-se o modelo económico atual e dava-se como exemplo o Brasil, onde os consumidores que produzem energia em excesso têm direito a créditos, que podem descontar em seguida na parte do consumo.
Certo é que parece uma incongruência haver no mercado tecnologia cada vez mais eficaz para a produção de energia, o nosso país ser um dos felizardos com condições ideais em termos de horas de exposição solar e vento, a autoprodução ser, até certo ponto, incentivada, mas, depois, quando toca a tomar medidas que, de facto, impulsionem o cidadão a investir na sustentabilidade, o sistema não permite.
E quem ganha com isso não costuma ser o consumidor.
Pode ser que quando houver novo apagão generalizado e o caos se instalar verdadeiramente, aconteça o que normalmente acontece por aqui, legislação reativa em vez de proativa.
Porque em Portugal parece que estamos sempre à espera de uma catástrofe acontecer para mudar alguma coisa no status quo instalado.