A opinião de ...

Lições da História

Se, como escreveu Alexandre Herculano, «a experiência é a mestra da vida», a História, com H grande porque quarta ciência social, depois da Filosofia, do Direito e da Política, e já celebrada por Wilhelm Hegel (a História), é a grande mestra do porvir porque permite ler o futuro à luz do passado e do presente. E, verdadeiramente, não poderá haver prospeção e planeamento do futuro sem as leituras do passado e do presente.
Acontece que a História tem sido a grande ausente dos debates e da informação como se tivesse caído um anátema sobre os historiadores que chamam a atenção para factos que se repetem quase nos mesmos termos séculos e décadas após séculos e décadas. A leitura da História permitiria compreender caminhos ínvios trilhados porque, no passado, os mesmos caminhos conduziram a grandes feitos e a grandes tragédias.
Se o «laissez faire, laissez passer» conduziu ao proteccionismo nacionalista e aos choques imperialistas do Século XIX, a excessiva dependência de uma só fonte de matérias primas conduziu sempre ao abuso de posição dominante e ao domínio sobre os dependentes-dominados.
O que se passa hoje na relação entre a Europa e a Rússia é o resultado da cegueira de dirigentes que não souberam intuir que estavam a colocar os seus países nas mãos de dominadores sem escrúpulos que, um dia, haveriam de cobrar a sua «benemerência» energética. O que se passa hoje na relação entre a Europa/EUA e China é o resultado da cegueira histórica na leitura da importância do pensamento de Richelieu e da sua teoria da autonomia nacional na produção dos bens essenciais.
A partir do momento em que deixamos desequilibrar a balança, seja em que domínio for, estamos a colocar-nos em perigo. Espanta-me, por exemplo, que, só 40 anos depois do apelo à não produção de cereais, com a destruição acrescida de todas as suas infraestruturas de produção, armazenamento e comercialização, a Sociedade Civil se mobilize perante a carência da principal fonte de sedentarização neolítica e de uma civilização milenar. Porque ninguém leu a História e as suas crises, ninguém conseguiu prever a tragédia.
Após o início da invasão russa da Ucrânia, temos corrido atrás do prejuízo e, por isso, a contenção do imperialismo russo está a ser mais difícil. Ninguém sabe como vai acabar aquela guerra e todos esperamos que ela termine como nós queremos. Mas também devemos saber que esta guerra é a primeira de duas sendo que a segunda se está a desenhar no norte do Oceano Índico em torno do expansionismo da China.
Apesar de tudo, o mundo, sob a égide da ONU e da Organização Mundial do Comércio, tem conseguido construir pontes e cedências de parte a parte, mas, perante a carência de bens e a ambição dos homens, esta segunda guerra, mais que provável, colocar-nos-á grandes problemas acrescidos.
Deus criou-nos, por natureza, esperançosos, optimistas, músicos e dançarinos. É preciso construir o futuro em conjunto, à luz do passado e do presente, mas desconfiando dos anunciadores de promessas insustentáveis.

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