A opinião de ...

Merecerão os portugueses a Europa?

Realizaram-se no passado dia 26, em quase todos os países da EU, as eleições para os deputados ao Parlamento Europeu.
Em Portugal, face à elevada abstenção verificada (68,6%), a terceira pior na EU, é impossível fazer leituras rigorosas dos resultados. É pertinente perguntar, sim, se os portugueses merecem a Europa. E, ainda, gritar pelo voto electrónico pois os responsáveis parecem ainda não ter percebido que pelo menos 50% dos eleitores estão deslocados face aos seus locais de voto.
A chamada «Esquerda» ficou maioritária: 54% contra 46% da chamada «Direita».
A vitória do PS é poucochinha. Com efeito, António Costa transformou estas eleições na primeira volta das eleições legislativas de Outubro próximo ao envolver-se tão directamente na campanha. Tendo obtido apenas 33,38%, é francamente pouco porque apenas 1,9 pontos acima de 2014, então com o partido fora do Poder, mesmo que com quase mais 100.000 votos, em 2019.
A queda acentuada do PSD (para 21,94%), reflecte os problemas e contradições internas que tem enfrentado ultimamente, as fracturas da criação de novos partidos no seu espectro sócio-político, as sequelas do programa austeritário do XX Governo Constitucional (PSD/CDS) e o drama dos professores. Não vai ser fácil o PSD afirmar-se como alternativa para Outubro, mesmo com um PS fraquinho.
O «desastre» da CDU reflecte o imobilismo do partido e o drama dos professores.
A subida acentuada do BE, que passa a liderar a Esquerda, reflecte o carisma de Marisa Matias e a ascensão do feminismo na política, em Portugal.
A enorme subida do PAN, que elege, pela primeira vez, reflecte as preocupações ambientais.
A enorme derrota do MPT, que desaparece, deve envergonhar Marinho e Pinto.
A derrota da Extrema Direita que, apesar de concorrer com vários partidos, não conseguiu reunir mais que 3% de votos, revela um Portugal ainda imune aos problemas dos países do Norte.
Os resultados na Europa expressam a ascensão forte dos partidos liberais e moderada da Direita e da Extrema-Direita, com fragmentação das famílias políticas que obrigará à procura da governabilidade através de difíceis alianças. Os resultados espelham os receios sobre a crise social e política e sobre os problemas de segurança e de desequilíbrios comunitários, culturais e religiosos na Europa. A única forma de diminuir esta percepção dos cidadãos é resolver estes problemas e não chamar nomes às pessoas que mudam o seu voto.
Apresentamos os resultados comparados entre 2014 e 2019 no Quadro abaixo

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