A opinião de ...

A ambição humana

odos os dias vemos, lemos e ouvimos a Comunicação Social que nos informa sobre o que, diária e cruelmente, acontece neste Planeta, e o que, também nele, diz respeito a situações trágicas.
Essa mesma Comunicação Social faz-nos ainda saber que as decisões de muitos governantes estão a querer obrigar-nos a habitar um Planeta que já foi maravilhoso e que, num futuro não muito longínquo, por causa dessas decisões, poderá tornar-se inabitável!
A ambição é, entre outros, um dos fatores que levam o Homem a subestimar a Natureza e os recursos não renováveis, ao procurar o gozo imediato de bens que deveriam ser acautelados para poder entregá-los, como a melhor herança, aos filhos.
O considerar a ambição como um fator perigoso, resulta do facto de nascerem dela outros, nomeadamente o poder – ele próprio a satisfazer grande parte da ambição – o qual, para o efeito, se serve de todos os meios ao seu alcance. Digo grande parte da ambição, porque quem assim se posiciona na vida, nunca vai conseguir tudo o que ambiciona, como afirma o Eclesiastes “ O homem trabalha para a boca, mas seus desejos nunca estão satisfeitos” (6,7).
Se não conseguirmos resistir e reagir positivamente às informações do que todos os dias e a toda a hora, nos entra pela casa adentro, e não soubermos ler por entre a catadupa dessas informações, as que acharmos mais consentâneas com o nosso dia-a-dia, iremos ser influenciados de tal maneira que vai ser o medo a tomar conta de nós. E, porque no medo, não se consegue raciocinar com a necessária imparcialidade, seremos arrastados para uma inatividade forçada e uma gradual passividade que poderá deixar-nos prostrados, continuamente a temer o que, não sentindo resistência da nossa parte, em breve, virá fazer-nos mal.
Andam nações preocupadas com a procura da arma que seja mais mortal do que aquelas que já conhecem e bastarão para aniquilar o Planeta, enquanto este vive sob a ameaça de ser destruído, de um momento para o outro. Não será esta uma situação que o leva a desconfiar daqueles a quem procura proporcionar a melhor das condições e oportunidades para nele se sentirem bem? Será isto uma enorme ingratidão da parte dos que podem beneficiar de tantos bens? Não se estranhe, então, por verdadeira, a afirmação de Alexandre Dumas: “Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão”!
Embora a adivinhe, não consigo compreender qual a razão que leva o Homem a destruir florestas, a alimentar fogos, a conspurcar as águas dos rios e dos mares, a poluir a atmosfera, a disputar, pelas armas, o mais pequeno recanto da Terra ou a mais pequena porção do ar. E para quê? Se eu soubesse responder, diria que, para alimentar a discórdia, a miséria, a desgraça e a incerteza do futuro, enquanto pensa dar força ao amor-próprio – uma das variantes da ambição…
E de que servem as armas fabricadas pelo Homem: granadas, bombas, mísseis, foguetões, a par dos respetivos meios de transporte, disseminadas por todo o lado, para destruições, explorações, alegada defesa… para que servem essas armas, repito, se não consegue vencer um contagioso vírus que se espalha pela Terra e tanto intimida pela sua agressividade e poder mortífero, de tal modo que, perante o mesmo, até os mais poderosos ajoelham?
E para que serve todo o Poder que o Homem criou, perante um terramoto que destrói, um maremoto que afoga, um vulcão que sufoca, um vento que derruba, uma chuva que inunda, um incêndio que reduz florestas a cinzas?
Deixem-me terminar com estes inspirados versos de António Gedeão, no seu poema “Fala do homem nascido”: “…e as forças da Natureza/nunca ninguém as venceu”.

Edição
3778

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