Novo ciclo autárquico em Bragança!
No passado dia 12 de Outubro de 2025 realizaram-se eleições para a escolha dos órgãos representativos do Poder Local. A existência de um Poder Local consolidado e a escolha dos membros dos seus órgãos por sufrágio universal, livre, directo e secreto, são, supostamente, conquistas importantes da nossa democracia de meio século.
Os resultados apurados foram inequívocos. O PSD venceu em toda a linha. Conquistou mais câmaras, mais freguesias e está em condições de reclamar para si a liderança na Associação Nacional de Municípios Portugueses e a liderança da Associação Nacional de Freguesias.
Apesar da vitória expressiva do PSD a nível nacional, no Município de Bragança os eleitores decidiram manter a liderança do PSD na maioria das freguesias, mas derrotando as candidaturas que pelo mesmo foram apresentadas à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal. Os resultados surpreenderam o país já que Bragança, a par de Viseu, foi apresentado como um bastião do PSD que agora foi conquistado pelo PS.
Importará tentar compreender que razões motivaram a perda de confiança dos eleitores bragançanos que ao longo dos últimos 28 anos deram um voto de confiança aos candidatos apresentados pelo PSD.
Penso que três factores terão concorrido para o resultado eleitoral do passado dia 12 em Bragança.
Primeiro, o mérito da candidata. Isabel Ferreira, recordando-me aliás o percurso que Jorge Nunes fez em 1997 para a conquista da Câmara para o PSD, trabalhou, empenhou-se, mostrou vontade, mobilizou as forças vivas do concelho e apresentou uma visão para o Município com uma mensagem clara e de esperança. Esta postura contrastou em larga medida com a adoptada pelo PSD que, apresentando candidatos com experiência, adotaram um discurso de continuidade e de rotina que dificilmente mobilizaria o eleitorado.
Segundo, as notícias que desde o último ano envolviam autarcas do PSD e que contribuíram para o desgaste do vínculo de confiança dos eleitores aos eleitos municipais social-democratas. Apesar de não existir ainda qualquer acusação ou condenação dos visados, é natural que a desconfiança desmobilize eleitores – afinal, nesta república de suspeitas perpétuas, onde o escândalo é o pão nosso de cada dia, basta um sopro de rumor para que a opinião pública vire as costas, com a mesma volubilidade com que aplaude os seus heróis de ocasião.
Terceiro, e do meu ponto de vista o mais relevante, a divisão interna do PSD Bragança, após a eleição dos órgãos concelhios o ano passado. Apesar da desvalorização da sua importância e da afirmação de que as diferenças são normais num partido plural e democrático, a verdade é que as divisões na família social-democrata de Bragança não parecem ter sido sanadas o que terá contribuído para a desmobilização de parte dos militantes.
Após este resultado, o PSD de Bragança tem de decidir se nos tempos mais próximos se propõe encetar uma estratégia de reconciliação e de renovação ou se, pelo contrário, regressa a tempos antigos de ajuste de contas e ‘vendettas’ pessoais que só contribuem para a fragilização do partido e para a sua manutenção nos bancos da oposição.
O primeiro teste surgirá já na escolha do Presidente da Assembleia Municipal. O PSD mantém a maioria na Assembleia Municipal, não havendo razões para que não apresente uma candidatura vencedora, capaz de reforçar o papel da Assembleia como órgão fiscalizador da acção da Câmara Municipal – a menos, claro, que a preguiça intelectual e a auto-comiseração prevaleçam, condenando o partido a mais um espectáculo deprimente de irrelevância.
Numa conjuntura autárquica em que as lealdades se rearrumam com a habitual dança de oportunismos, a candidatura do Dr. Júlio de Carvalho – com quem, confesso, não troquei palavra sobre esta minha especulação – à Presidência da Assembleia Municipal de Bragança poderia, quem sabe, surgir como um lampejo de lucidez num PSD que, entre divisões e melancolias, ainda não percebeu que a irrelevância é um destino autoimposto.
O Dr. Júlio de Carvalho, reeleito para a Assembleia, é uma figura de respeitabilidade quase anacrónica em tempos de políticos de ocasião: um homem conhecido pela teimosia em defender causas que transcendem o cálculo mesquinho, um cidadão cuja intervenção cívica, cultural e política sempre tentou, contra ventos e marés, servir o tal “bem comum” que os partidos evocam com a mesma convicção com que se esquecem dele.
Fundador do PSD em Bragança, nunca se curvou perante estruturas partidárias que, por preguiça ou oportunismo, traíram a matriz de Sá Carneiro ou venderam os interesses da nossa terra ao poder central em troca de migalhas. A eleição de um destes raros “homens-bons” do concelho não seria apenas uma manobra para apaziguar as facções internas do PSD. Seria, acima de tudo, uma oportunidade para reforçar o prestígio da Assembleia Municipal, esse órgão que, em teoria, representa todos os munícipes, mas que tantas vezes se afunda na irrelevância de debates estéreis.
Sendo, porventura, o decano dos autarcas locais, o Dr. Júlio de Carvalho traz consigo uma experiência que não se aprende em manuais de campanha nem em conluios de bastidores. Com a sua humanidade testada por décadas de serviço público, não se eximirá de partilhar, com lealdade institucional, a sabedoria que acumula – se é que os caciques locais, com a sua habitual miopia, não preferirem desperdiçar esta oportunidade em mais um ajuste de contas ou numa birra.