A opinião de ...

Cidadãos e Transição Digital em Saúde - I

Tive oportunidade de participar, como palestrante, no Fórum “A Transição Digital na Saúde: Desafios e Oportunidades”, no dia 2 de novembro, promovido pelo Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Foi um evento inserido nas muitas iniciativas pelo País para assinalar o “Mês das Competências Digitais”. Ali apresentei a minha perspetiva: «Transição Digital, Cidadãos e Sociedade - Breves Notas».
Trago aqui e agora, junto dos leitores do MB, três apontamentos. Mas, antes, para ilustrar este tema, permito-me contar um breve episódio que vivenciei: diálogo entre médico e doente em consulta. Médico (olhando para o computador):
«- O senhor está fino, com essa idade, tomara eu chegar lá! Tem os valores de antigénio específico da próstata, da hemoglobina, da osteoporose muito bons para a sua idade... Apenas… vai tomar estes comprimidos para aliviar a sensação de dor no baixo ventre.
Doente de 85 anos (olhando o longe, porventura a serra da sua aldeia):
- Muito bem Sr. Dr., pode trocar-me isso por miúdos?»
Nota:
Cá fora, para o genro, afirmou o doente:
«- Sabe, fui muito bem atendido, só que não compreendi nada e o Sr. Dr. estava muito ligado ao computador. Só que tinha de tomar comprimidos para a dor. Penso que será para a bexiga.»
Primeiro apontamento - este diálogo coloca várias questões: comunicação; relação médico-doente; iliteracia. E emoções, que António Damásio enfatiza nas suas obras: «Sem qualquer exceção, homens e mulheres, de todas as idades, de todas as culturas, de todos os graus de instrução e de todos os níveis económicos têm emoções… Estão atentos às emoções dos outros… e governam as suas vidas, em grande parte, pela procura de uma emoção, a felicidade, e pelo evitar das emoções desagradáveis» (Sentimento de Si – pág. 55). Ora, o doente acima referido sentiu uma significativa marginalização. Como muitos de nós quando procuramos o médico. Felizmente que esta cena é, de alguma forma, uma caricatura.
Segundo – a transição digital consiste na mudança de mentalidade das pessoas e empresas e instituições do Estado com o objetivo de acompanharem os avanços tecnológicos e deles se servirem. É a capacitação de pessoas e organizações fazerem o mesmo com menos recursos. Oficialmente, há um plano de ação desenhado para ser o motor de transformação digital do País. Recordemos alguns dados estatísticos sobre (in https://www.publico.pt/2021/02/20/infografia/transicao-digital-uniao-eu…):
1. Utilização da internet: (i) pessoas que acederam à Internet em 2020 (em %): Portugal – 78; União Europeia – 87; (ii) pessoas que nunca acederam à Internet em 2020: Portugal – 18; União Europeias – 9.
2. Razões para não ter Internet em casa (dados obtidos num inquérito com resposta de escolha múltipla, em %): (i) têm acesso em outro lugar; (ii) não consideram necessário – 49; (iii) custos dos equipamentos – 53; (iv) custos de acesso – 53; (v) - custos de acesso e equipamentos – 57.
3. Utilização da internet - Situação em Portugal por Regiões (em %): (i) Norte – 79; Centro -78; Área Metropolitana de Lisboa (AML) – 89; Alentejo – 77; Algarve – 83; Açores – 84; Madeira – 86.
Farei alguns comentários na próxima edição.
Paulo Cordeiro Salgado – 6.11.2022

Edição
3911

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