A opinião de ...

A nossa “Casa Comum” (ainda e sempre, riscos globais e biodiversidade) - I

A expressão “Riscos globais e biodiversidade” – que recolhi na obra com o mesmo nome, de Maria Amélia Martins-Loução, publicada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) – traduz imensas preocupações, de que já o Papa Francisco amplamente tratara na Carta Encíclica Laudato Si (edições Paulinas, 2015). A expressão “Casa Comum” é, como sabeis, este Planeta que habitamos. Vale a pena refletir sempre sobre as preocupações de Francisco, também de Maria Amélia Martins-Loução e de outros autores, e sobre as propostas que nos apresentam.

No capítulo I, a Carta Encíclica questiona: “o que está a acontecer à nossa Casa”? O texto faz algumas apreciações de natureza teológica e filosófica, sem esquecer, como é hábito deste Papa, os aspetos social, económico, político e cultural. A mudança faz parte do processo histórico; ninguém, de bom senso, defende o retrocesso civilizacional. No entanto, também é certo que o modo de vida dos homens (uns mais do que outros, claro, se nos lembrarmos do consumismo desenfreado e da pobreza, em alguns casos extrema), acontece de forma rápida, o que “em espanhol designam por rapidación” (página 17 da Encíclica), portanto atendendo a uma lógica cada vez mais afastada do Bem Comum daqueles que fazem parte desta Casa. Neste capítulo, Francisco aborda de forma pedagógica e detalhada: (i) a poluição e mudanças climáticas; (ii) a questão da água; (iii) a perda de biodiversidade; (iv) a deterioração da qualidade de vida humana e degradação social; (v) a desigualdade planetária; (vi) a fraqueza das reações políticas nacionais e internacionais; (vii) a diversidade de opiniões sobre as soluções com perspetivas e propostas diferentes.

Também a autora referida aprofunda diversos problemas que o homo sapiens sapiens causa na mãe Natureza, afinal em si próprio. Logo no início, refere que em menos de cem anos, passou-se de um “pequeno mundo num grande planeta, para um grande mundo de um pequeno planeta”. Curiosa expressão esta que exibe a transformação ideológica que se tem vindo a operar desde o pós segunda guerra. Acrescenta, logo a seguir: “a modernidade faz da celeridade uma condição, como se fosse comandada pela busca do cavalo de Samarra” (narrativa de que refere a ânsia de sobreviver perante as ameaças da morte, por Somerset Maugham). Na verdade, estamos no caminho errado, porque “a atividade humana está a empurrar o clima e muitos ecossistemas para o limite da sobrevivência”.

Um dos aspetos curiosos que ela menciona é, entre outros, a intensificação agrícola e a alteração dos hábitos alimentares referindo enfaticamente sobre este último, que «num mundo globalizado, com mais de sete mil milhões de habitantes, dois mil milhões sofrem de fome ou apresentam deficiência nutritiva. É algo que nos deve preocupar, na medida em surgirão graves distúrbios: a procura de alimentos e de água. Não é, como refere o estudioso Mário Beja Santos no seu ensaio “Sociedade de Consumo e Consumidores” (FFMS) «uma história da carochinha» para entreter intelectuais, mas uma questão de sobrevivência do Homem.

Voltarei brevemente ao assunto.

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3951

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