A opinião de ...

Favas Contadas …

A multidão, expectante, comprimia-se na gare. O sonho concretizava-se. O comboio, engalanado a preceito, silvou nos freios e estancou. A apoteose, o libertar de pulmões em opressão de quarenta anos, extravasou. Músicas operárias de letras a condizer e com destaque para a Internacional Socialista ecoaram na nave central de St.ª Apolónia, ali junto à porta do Sol Fernandina, em Lisboa.
As carruagens, lotadas de esperança, carregadas de utopias, com janelas por onde se esgueirava a liberdade, abriram as portas da fraternidade e apresentaram os lutadores, os que doaram tempos de vida em dádiva gratuita ao povo a que pertenciam. Mário Soares e Álvaro Cunhal desapareciam nos abraços e afectos da Gratidão, dos traídos, dos humilhados, dos que saberiam perdoar, dos agrilhoados, duma Nação exausta. Foi o ponto de partida para uma luta de mais quarenta anos, agora em democracia, rumo à igualdade.
Os Timoneiros, os que até aqui nos trouxeram, são conhecidos: Junta de Salvação Nacional, quatro Governos Provisórios e catorze Governos Constitucionais. A estes responsáveis somarei mais um, e de peso porque decisivo na catástrofe, os Sindicatos.
Fixemos a lente nos dois últimos governos. Sócrates, herdeiro de um Durão Fujão e de um Santana Imaturo arrebatou maioria absoluta nas urnas, sem coligações. Politicamente o seu governo foi dos mais audazes: a Saúde de Correia de Campos, a Educação de Maria de Lurdes Rodrigues, a Ciência de Mariano Gago, as energias renováveis e, sem sombras para dúvidas, o minorar das desigualdades pelo nivelar dos direitos adquiridos Corporativos, fonte de ódios viscerais ainda hoje existentes, são baluarte em vários rácios de comparações europeias.
Só os fracos de memória não vislumbram a origem da hecatombe financeira que atingiu a Europa e Portugal, a crise internacional. Caímos nas mãos da Troika pelas queixinhas feitas nas instâncias europeias pelos roedores que espreitavam o queijo.
Conhecemos os ajudantes caseiros de Passos no fornecimento de dados e opiniões na elaboração do triste memorando, Catroga e Frasquilho. Com leituras que tão bem conheciam, prometeram o oásis, bastava a redução das gorduras-do-estado, conhecidas como banha-da-cobra, e tudo seria possível. Redução de pensões, emigração de jovens promissores, destruição de empregos, percas de património, com Passos nunca aconteceria.
Adultos responsáveis, decidiram em consciência. Agora, quatro anos após a travessia do inferno cá estamos preparados para a decisão suprema, talvez a mais difícil na vida da jovem democracia.
De um lado um bloco unido para mais do mesmo, Cavaco e Passos. Do outro um democrata com provas dadas, uma mente fraterna, livre e sonhadora.
Vislumbro luta tenaz entre os masoquistas que, provando remédio que dói mas não cura e entre os que, perante a queda eminente do Passismo, não enxergam as muletas que o podem por de pé. Portugal necessita de um Costa agigantado, firme, criador de rumos, destruidor de mentiras, predador da conjura Passos/Cavaco pois é herdeiro do passado socialista, bom e mau, de Soares a Sócrates. A matemática estará na primeira linha de combate porque estas Legislativas não serão Favas Contadas…

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