A opinião de ...

Um por todos, todos por um…

1977. A eira, no morro da aldeia, de quartzo branco, em círculo, domina o espaço, voa acima dos vales que a partir dali se projectam. Daqui, deste lugar, aspiram-se bons ares, é como uma centralina de cores, das que a natureza oferece, o verde travestido de todas as tonalidades transmontanas. Lá no fundo, bordejando a ribeira, a caminho do Ribeiro de Zacarias que transporta as águas para sôfrego Sabor, oliveiras, amendoeiras, giestas, urzes, silvas, tojo, todos compõem a palete esverdeada que nos enche o olhar, que inebria e descansa.
Estamos em Agosto, no inferno de Torga, onde a aragem se recolhe às seis da manhã, dando lugar aos raios de sol abrasadores fazendo frente, de frente, a todas as sombras que se atrevam. O cenário, fantasmagórico, é observado por toda a aldeia, concentra as medas de trigo de cada família.
A malhadeira, objecto que se impõe pela imponência, vomita no espaço, das entranhas, os rugidos metálicos da combustão e das engrenagens. Nos ares misturam-se as palhas, os gases, os arfares e os suores das gentes. Hoje vai malhar o Arnaldo, é a Meda do Arnaldo e da Felismina, prenha de trigo, que vai parir os grãos da vida, ajudar a encher o Celeiro de Alfândega da Fé e seguir para os silos, EPAC, de Bragança. Por aqui, ajudando, a título gracioso, comunitariamente, as outras famílias, os Palhetas, Torres, Ritos, Pereiras, Cordeiros e muitas outras vão alimentar a pança daquela máquina infernal e dela retirar o proveito dos Sousa Possacos, trigo e forragem, produto dos suores de um ciclo de labuta, para proveito próprio e dos animais a cargo. Este é o comunismo, puro, ancestral, consuetudinário, com cartas que ensinam os vindouros.
Hoje, tempos de guerra fratricida, deitando para trás das costas os ensinamentos das civilizações precedentes, esquecendo a moral pregada através dos tempos pela universalidade das religiões, um louco entrincheirado, produto de um povo que se deixou aprisionar por pensamentos individuais, que os tempos se encarregaram de prescrever, teima conduzir a humanidade, apanhada por síndrome impotente, rumo a novo holocausto, imagem banida para os confins do cérebro, regressando, emergindo ao consciente de forma aterradora.
E é só agora, no borbulhar apocalíptico do caldeirão, que a Europa pensa na corrida ao armamento, a um exército comum, trancando as portas, esperando novo louco que as trevas agigantem.
Pobre Europa, não pensa que serão seus filhos e netos, de todas as nações, marcialmente convocados, que sustentarão a lei imposta, todos unidos em, Um por todos, todos por um…

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3876

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