Bragança

Divulgado relatório sobre a queda de avioneta em Bragança que provocou duas mortes, mas aeroclube esclarece alguns pontos

Publicado por AGR em Sex, 2021-03-26 10:02

O relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgado esta quinta-feira, refere "que a falha catastrófica da estrutura primária da semi-asa direita por falência dos elementos constituintes da longarina da asa terá sido desencadeada pela provável operação da aeronave fora do seu envelope de voo".

De acordo com a notícia da agêcia Lusa, citada pela RTP, o SportCruiser, operado pelo Aero Clube de Bragança, descolou às 17:31 de 16 de março de 2019 do aeródromo municipal de Bragança para um voo de recreio, com dois ocupantes e sócios do aeroclube: sentado à direita, com 60 anos, seguia um instrutor desta categoria de aeronave e conhecido empresário de Bragança, e, sentado à esquerda, um piloto, de 26 anos, que se encontrava em formação na TAP.

A investigação concluiu que "existe elevada probabilidade de o ocupante sentado à esquerda ter influenciado a condução do voo; que a aeronave descolou com uma massa superior à massa máxima autorizada; e que o ultraleve foi operado excedendo os limites de carga aerodinâmica por terem sido ultrapassados os limites máximos de velocidade induzindo sobrecargas estruturais".

O GPIAAF constatou ainda que "o projeto e fabrico da aeronave não cumpriam com as especificações técnicas e padrões aplicáveis" e que "o velocímetro não cumpria com o normativo de informação visual à tripulação sobre os limites da velocidade a não exceder".

"Em algumas fases do voo os limites de velocidade e respetivas variações (aceleração) definidos pelo fabricante da aeronave foram ultrapassados, tal não é consistente com as práticas habituais do piloto instrutor, o que suporta a possibilidade de ações de pilotagem pelo piloto sentado à esquerda", sustenta o GPIAAF.

 

Aeroclube esclareceu alguns pontos

Entretanto, em comunicado enviado às redações, o Aero Clube de Bragança, a quem pertencia a aeronave, esclareceu alguns dos pontos levantados pelo relatório.

“Ficou provado, através do GPS da aeronave, que o avião acabou por ultrapassar a velocidade máxima permitida e ultrapassados os limites de carga aerodinâmica, acabando por “romper”a principal estrutura da asa da aeronave, embora não se consiga provar queestas ações foram feitas de formaintencionalou indeliberada [sic]”, diz Nuno Fernandes, presidente do Aero Clube.

Por outro lado, o mesmo responsável garante que só agora ficaram a saber “que o projeto e construção da aeronave, no que respeita aos componentes ensaiados (asa), não cumpriam com os padrões e normas internacionais de referência na indústria”.

“Ao Aero Clube de Bragança nunca foi transmitida qualquer informação sobre este aspeto, nem era do conhecimento geral da “comunidade aeronáutica”. Além disso a aeronave tinha revalidado o certificado de voo, através de uma inspeção visual intensiva e respetiva documentação, junto do ANAC (Autoridade Nacional de Aviação Civil) meses antes deste acidente e nada foi apontado a esse respeito”, sublinha Nuno Fernandes.

Por outro lado, o relatório conclui que foi demonstrado que a operação da aeronave estava acima do seu limite de peso. “Este é há muito tempo, um tema discutido entre várias entidades, a comunidade aeronáutica e a ANAC, coma finalidade da alteração da lei do limite de peso dos aviões ultraligeiros dos 450 kg para os 600kg. É já uma realidade em muitos países, que vêm a acompanhar a evolução natural destas aeronaves, mas segundo a lei Portuguesa a categoria de aviões ultraligeiros só pode operar com um peso máximo de 450kg.É impossível cumprir a lei portuguesa, tanto nesta aeronave em causa como na esmagadora maioria das aeronaves ultraligeiras, pois isso limita a operação ao piloto ea20 litros de gasolina. Cumprindo a lei acabaria por invalidar a formação e refrescamento de aptidão de pilotos, criaria uma operação perigosa pela falta de autonomia e condiciona aquilo que a aviação ultraligeira se destina – atividade de lazer”, diz ainda Nuno Fernandes.

O relatório apresenta também orientações sobre a forma como as mesmas devem ser analisadas e tratadas, com seriedade e pedagogia, para evitar que situações semelhantes possam ocorrer futuramente. “Nesse sentido, o Aero Clube de Bragança está a equipar as suas aeronaves com equipamentos de monitorização de dados de voo que servirão para controle dos padrões de voo realizados”, explica o presidente do Aero Clube.

Nuno Fernandes refere ainda que “esta aquisição foi apoiada pelos familiares das vítimas deste acidente”. “Também estamos a unir esforços coma restante comunidade aeronáutica, pretendendo que a atividade aeronáutica de lazer consciencialize o mote "SAFETY/SEGURANÇA", não só junto dos aviadores mas também em sede das escolas de voo e aeroclubes, transversais a toda a aviação ligeira ou ultraligeira. O Aero Clube de Bragança decidiu doar os salvados (destroços) do acidente para ações de sensibilização e formação de práticas de segurança aeronáutica, que irá percorrer o país pelos vários Aero Clubes. O Aero Clube de Bragança orgulha-se de ter tido o Horácio e o André como associados e orgulha-se dos perpetuar no seu logotipo. Estamos certos de que estão a olhar por nós”, conclui.

Assinaturas MDB