Nordeste Transmontano

Economia deverá crescer no próximo ano mas a emigração pode disparar

Publicado por António G. Rodrigues em Ter, 2021-10-12 10:27

Depois de um ano de 2020 fortemente condicionado pela pandemia de covid-19, espera-se que o próximo ano seja de recuperação económica.
Quem o diz é o economista e investigador, Paulo Reis Mourão.

O docente na Universidade do Minho criou o Índice da Economia de Trás-os-Montes (IETI), que ao longo dos últimos dois anos tem tomado o pulso à economia da região.

Ao Mensageiro, Paulo Reis Mourão descreve um ano de estagnação provocado pela pandemia.

"A região comportou-se como o restante do país – atingiu mínimos históricos em abril e maio de 2020 assim como registou um decréscimo acentuado no chamado ‘segundo confinamento’ que aconteceu a partir de fevereiro de 2021. As dimensões que tornaram mais clara esta evolução foram, sem dúvida, os fluxos de Turismo e o Consumo das Famílias, ambas reflexo da limitação na mobilidade mas também da limitação no rendimento real. O investimento teve alguma reação a partir de maio de 2021 mas podemos alegar que tivemos praticamente um ano sem despesas de investimento notórias na região", explica.
Por outro lado, Paulo Reis Mourão revela perspetivas de crescimento para os próximos meses, apesar de uma desaceleração sentida em setembro.

"A generalidade das previsões aponta, condicionalmente, para taxas de crescimento positivas e superiores ao crescimento de 2021. A região, em princípio, deverá acompanhar esta evolução. No entanto, é histórica a observação de maiores taxas de emigração nos anos a seguir às eleições. De qualquer modo, todos os cenários estão dependentes da evolução da reação às novas ondas pandémicas que possam ainda surgir", diz.

Agora que as restrições do comércio começam a ser levantadas, o investigador lembra que a pandemia trouxe mínimos históricos que é preciso recuperar, e que o impacto da pandemia "não foi menor" do que à partida se poderia pensar.

"Na realidade, ao tocarmos em mínimos históricos poderemos referir que tocámos no fundo da capacidade económica em matéria de circulação de rendimento. Houve, no entanto, vários mecanismos que amorteceram o impacto negativo – a gestão das moratórias, o aparecimento de vários instrumentos redistributivos do rendimento e do apoio social, a resposta da sociedade civil, o papel algo concertado das instituições europeias na gestão da crise em especial a partir do último trimestre de 2020. A generalidade das taxas de desemprego a nível europeu aumentou assim como a queda dos PIB foi comum e a coincidência dos movimentos de recuperação. Obviamente, os milhares de mortos europeus devido à pandemia em curso são a face mais clara do que não conseguimos fazer no Velho Continente. Em termos regionais, receio que o interior de Trás-os-Montes não consiga aproveitar a famosa bazuca como outros espaços em Portugal – desde o foco do PRR estar em setores com dinamismo mais acentuado noutras regiões até ao desinteresse político crescente pela recuperação e revitalização dos investimentos em Trás-os-Montes muitos fatores justificam este meu ceticismo. No entanto, as iniciativas dos transmontanos sempre tiveram o condão de nos surpreender em matéria de empreendedorismo e, em concreto, de resiliência", aponta.

Olhando para os números, Paulo Reis Mourão nota que a economia tem já mostrado uma tendência de crescimento desde abril.
"O IETI começou a recuperar a partir de abril em relação aos valores de há um ano. O turismo foi especialmente generoso só a partir de maio tendo as despesas das famílias começado a reagir desde abril. O investimento – apesar de continuar a ser a dimensão mais lenta na dinâmica de resposta, sofreu ainda o impacto positivo do ciclo eleitoral pois tivemos mais obras e mexer com o setor nos últimos meses da região", conclui o mesmo investigador.

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