Bragança

Nove anos depois a PJ prendeu dono da ML na fronteira de Quintanilha

Publicado por AGR em Sex, 2013-11-22 19:50

A Polícia Judiciária e a GNR puseram na última segunda-feira, ao final da tarde, fim à fuga do mais conhecido empresário da noite de Bragança, que já durava desde 2004.
Camilo Gonçalves, agora com 46 anos, foi detido junto à fronteira com Espanha, em Quintanilha, numa operação que envolveu também a colaboração das autoridades do país vizinho, depois de ter ido ao outro lado da fronteira almoçar com amigos, no carro de um familiar.
A Polícia Judiciária seguia-lhe os passos há cerca de uma semana. O empresário da noite, condenado a nove anos de prisão em 2007, num julgamento em ausência, no âmbito do processo espoletado pelas ‘Mães de Bragança’, estava fugido há nove anos, desde uma operação nos bares de alterne da cidade do Nordeste Transmontano, em fevereiro de 2004, que desmantelou perto de uma dezena de casas de diversão noturna que trabalhavam em regime de alterne. Camilo Gonçalves era dono do bar ML que, no âmbito do mesmo processo, acabou por reverter para o Estado já que o tribunal entendeu que ali se praticava alterne e prostituição com mulheres que o empresário traria do Brasil. Foi ainda condenado ao pagamento de 1,8 milhões de euros ao Estado por crimes de lenocínio (fomento da exploração) e apoio à imigração ilegal.
O caso começou em abril de 2003, quando um grupo de quatro mulheres, auto-denominado ‘Mães de Bragança’, entregou um manifesto às autoridades apelando à sua intervenção devido ao grassar de prostituição pela região nordestina, que ameaçava os seus casamentos.
O bar ML, situado num monte sobranceiro à cidade, perto do santuário de S. Bartolomeu, nasceu nas instalações da discoteca Montelomeu. Era o maior da zona e o que teria mais meninas a trabalhar (nos tempos áureos seriam dezenas).
Foram tempos de grande movimentação nas ruas da cidade e, sobretudo, no comercio tradicional. Ourivesarias, cabeleireiros, prontos e vestir e mesmo taxistas, que chegavam a levar meninas às compras ao Porto, nunca mais voltaram a ter tanto trabalho como esses anos. O rebuliço chamou inclusivamente a atenção da revista Time, que em Outubro de 2003 fazia capa com aquilo a que chamou de novo Red Light District da Europa. Essa escolha causou mal-estar não só entre as gentes locais, mas também entre o Governo, que chegou a suspender publicidade ao Europeu de futebol que, em 2004, se realizaria no nosso país.

Amor ao clube
da terra
Camilo era, então, um dos empresários de maior sucesso. A sua ML chegou mesmo a patrocinar o clube de futebol da terra, o Grupo Desportivo de Bragança, ainda que por pouco tempo, devido à onda de indignação que se levantou. Mas o placarde publicitário alusivo ao bar perdurou durante anos no estádio municipal.
Um dos jogadores que fazia parte do plantel na altura recorda que foram bons tempos. “Ajudou muito o clube. Acabou por aceder a pagar metade do valor acordado mesmo sem o patrocínio nas camisolas”, recorda o mesmo jogador que, no entanto, desmistifica outra parte da relação. “É um mito que se criou que os prémios de jogo eram pagos lá em cima, na discoteca. Isso nunca aconteceu”, garante.
Essa época até acabou mal para o clube brigantino que, depois de um brilhante início de época, acabou por descer de divisão.
Mas aquando da rusga, em fevereiro de 2004, Camilo Gonçalves fugiu, pensa-se que para o Brasil, suspeitando-se de que teria recebido informação privilegiada. Também passou por Espanha, onde teria voltado a explorar bares de alterne, em Alcanices, a poucos quilómetros da fronteira de Quintanilha onde seria detido na segunda-feira.
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