Bragança

“O incumprimento dos prazos de pagamento causa constrangimentos no funcionamento das Unidades de Cuidados Continuados”

Publicado por AGR em Qui, 2023-08-31 14:39

Prestes a completar nove anos de existência, a Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia de Bragança vai assinalar a data com a realização do segundo congresso ibérico, nos dias 08 e 09 de setembro. Espera-se a vinda do próprio Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, à sessão de abertura. O bispo de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida, irá moderar um dos painéis, na manhã de sábado. O Mensageiro entrevistou, por isso, Susete Abrunhosa, diretora da UCC de Bragança, que traça um retrato das dificuldades por que passam estas instituições.

Mensageiro de Bragança: Que balanço faz do trabalho da UCCI desde a abertura?
Susete Abrunhosa:
Apesar das adversidades temos conseguido atingir os objetivos propostos. A UCCI Bragança através de serviços diferenciados de saúde e apoio social, orientados para o bem-estar e qualidade de vida dos utentes, numa perspetiva biopsicossocial, garante padrões de qualidade direcionados para os seus utentes, famílias, comunidade e profissionais. Mantém-se dotada de infraestruturas, equipamentos e uma equipa multidisciplinar que permitem assegurar a continuidade de cuidados humanizados, numa perspetiva de proximidade, e sempre com o apoio dos parceiros.

MB.: Quais os principais desafios atualmente?
SA.:
Quanto à envolvente, de acordo com as projeções demográficas atuais, é esperado que a proporção de pessoas com 65 anos continue a aumentar, assim como as pessoas com doenças crónicas, situação pode trazer desafios significativos para os cuidados de saúde. Nesse contexto, os cuidados continuados surgem como uma solução e, como tal, temos de estar preparados para responder às suas necessidades. No entanto, os critérios de referenciação continuam a ser desrespeitados pelas entidades referenciadoras, as exigências ao nível dos recursos humanos em número e vencimentos, o aumento do custo por utente, aumento do custo dos medicamentos. Também é importante referir o incumprimento dos prazos de pagamento por parte da ARS Norte, Instituto de Segurança Social e dívidas das comparticipações familiares, que provocam constrangimentos no funcionamento destes serviços.
Há, ainda, a dificuldade em assegurar a continuidade de cuidados, devido à escassez de vagas em ERPI [Estruturas Residenciais para Idosos], assim como dos casos sociais e a sua integração em Vagas Reservadas à Segurança Social,  que apesar dos esforços já superam os 35% em ambas tipologias.

MB.: Quantos utentes e em que regimes?
SA.:
Na presente data a UCCI Bragança dispõe de 30 camas na Unidade de Média Duração e Reabilitação, 25 na Unidade de Longa Duração e Manutenção, e 12 camas em regime privado.

MB.: Existe a vontade de abrir mais camas?
SA.:
Existe a vontade de alargamento da RNCCI em abranger as camas que a UCCI Bragança dispõe no regime privado. Para além disso, a instituição pretende alargar os serviços prestados no âmbito da rede, ao nível através das respostas UDPA (Unidade de Dia e Promoção da Autonomia), e EAD (Equipa de Apoio Domiciliário).

MB.: Qual o objetivo do congresso deste ano?
SA.:
O objetivo principal é sempre, potenciar uma análise do estado da arte da atualidade do trabalho desenvolvido na área dos cuidados. E, promover a troca de experiências entre profissionais de diferentes regiões, respostas e competências. De valorizar os profissionais que fazem parte deste cartaz da área do envelhecimentos e cuidados de saúde.

MB.: Quais os principais temas?
SA.:
De uma perspetiva macro para micro, prevemos abordar as temáticas do envelhecimento, impacto da pandemia no setor, importância e ferramentas para monitorização da qualidade dos cuidados, políticas e sustentabilidade das instituições do 3º Setor, profissionalismo, felicidade, capacidade de se reinventar das equipas multidisciplinares, cuidar a dor e cuidar em fim de vida, a importância e as necessidades dos cuidadores informais, numa abordagem ibérica, de forma critica, reflexiva para promover recomendações para a melhoria contínua na área em análise.

MB.: As UCCI enfrentam um problema de subfinanciamento por parte do estado. Em quanto deveria ser aumentada a comparticipação?
SA.:
O funcionamento da RNCCI está desajustado, ao nível das comparticipações, desde o início da sua existência. Apesar da atualização dos valores, estes não acompanham as exigências. Considero que devido às especificidades inerentes ao funcionamento dos serviços da RNCCI, no que concerne às instalações, equipamentos, recursos humanos, utentes polimedicados com comorbilidades, os valores não contribuem para a sustentabilidade das instituições. Em termos de valores, a ULDM por uma questão de razoabilidade financeira deveria rondar os 110€ por dia, e a UMDR os 100€ por dia [atualmente, os valores são de 75,48€/dia e 95,84€/dia respetivamente].

MB.: Qual tem sido o papel desta UCCI para a região?
SA.:
As UCCI apresentam-se como uma resposta de cuidados intermédios após o internamento hospitalar, devido à elevada ocupação das camas dos hospitais, pois mais de 96% dos utentes são referenciados pelas Equipas de Gestão de Altas hospitalares. Como tal, a nossa unidade tem integrado utentes da zona norte com o objetivo prestar cuidados continuados integrados a pessoas que, independentemente da idade, se encontrem em situação de dependência. Cujo objetivo é melhorar as condições de vida e de bem-estar das pessoas em situação de dependência, através da prestação de cuidados continuados de saúde e/ou de apoio social, assente em cuidados centrados no doente, multidisciplinaridade, cuidados humanizados, continuidade de cuidados, promoção, recuperação contínua ou manutenção da funcionalidade e da autonomia com bons resultados, que permitiram o regresso ao domicílio de um número significativo de utentes. Sempre promovendo a participação das pessoas significativas, na elaboração do plano individual de intervenção, e corresponsabilização na prestação de cuidados.
Para além do apoio prestado aos utentes e famílias, também consideramos importante a capacidade de empregabilidade da instituição de profissionais qualificados, permitindo a fixação de jovens licenciados.

MB.: Em média, os utentes são do concelho de Bragança ou de fora?
SA.:
Apenas no segundo trimestre de 2022, a maioria dos utentes teve proveniência do concelho de Bragança. Nos restantes, o número é bastante mais elevado de utentes provenientes de Vila Nova de Gaia, na Unidade de Média Duração e Reabilitação. Tendo valores também significativos os concelhos da Maia, Braga, Barcelos, Valongo, Espinho e Guimarães.
Na Unidade de Longa Duração e Manutenção, a maioria dos utentes são provenientes de Bragança e, a seguir, de Mirandela, Vinhais e Macedo de Cavaleiros.

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