// ENTREVISTA - Comandante José Neto

“Vinha cético mas já estou mais confortável”

Publicado por AGR em Qui, 2019-03-21 09:50

José Neto tem 49 anos, nasceu em Angola mas fixou residência no Porto. Filho de Polícia, seguiu a carreira por imposição paterna mas apaixonou-se pela função e já não consegue “fazer mais nada”. É o novo Comandante Distrital de Bragança da PSP e falou em exclusivo ao Mensageiro.

Mensageiro de Bragança: Que balanço faz destas primeiras semanas à frente do Comando Distrital de Bragança da PSP?
José Neto: Já estamos a trabalhar e a equipa está muito entusiasmada. Estamos a identificar os nossos interlocutores privilegiados aqui dentro e de toda a ordem. Ou seja, não estamos a contar só com os oficiais. Estamos a identificar de agentes a oficiais aqueles que podem fazer a diferença e que ainda têm vontade e disponibilidade para fazer essa diferença. Há que respeitar a idade, há que respeitar o tempo de serviço e tudo isso concorre para que este diagnóstico ainda não esteja pronto.

MDB.: O que já percebeu?
JN.: Que temos, efetivamente, das melhores instalações policiais no país. A infraestrutura até nos exige um comportamento diferente para com a cidade, porque foi a cidade que também ajudou que isto existisse, quer aqui, quer em Mirandela. Depois, temos de perceber as dinâmicas de trabalho. Ainda estou muito mais voltado para dentro desta casa do que para fora, perceber o que se faz, quem está confortável, quem está desconfortável, quem gostava de ter outros desafios e, acima de tudo, percebermos se há profissionais que desistiram, pelas razões mais díspares possíveis. Ou por questões de saúde e andamos distraídos, ou por razões de motivação porque, efetivamente, houve alguma questão profissional que, de alguma forma, partiu a sua relação com a instituição e com o trabalho. E isso está praticamente completo. Já temos uma ideia clara da massa humana que temos e estou satisfeito.
Vinha mais cético e neste momento estou mais confortável. Há muito a fazer e muito a exigir a Lisboa (risos).

MDB.: Vinha com as expectativas mais baixas?
JN.: Vinha porque, naturalmente, quando trabalhamos em Comandos no Porto ou em Lisboa, como eu tive oportunidade de fazer nos últimos anos, é evidente que conhecemos a realidade que nos é traduzida por relatórios, por conversas, por reuniões. Só o número de ocorrências por dia, por exemplo, comparado com as das grandes metrópoles, era diminuto.

MDB.: As de um ano aqui equivalem às de uma semana de uma esquadra em Lisboa?
JN.: Se calhar menos... (risos). Então se formos para as divisões especiais em Lisboa, onde permanentemente a Polícia está a ser requisitada a trabalhar, é completamente distinto.
Não quer isto dizer que as ocorrências aqui não sejam também complexas. Ou seja, é tudo uma questão de escala. Essa é a grande diferença entre uns locais e os outros. Quando começarmos a ir mais para a rua, a falar com as pessoas, a perceber mais as coisas, os meus olhos são diferentes dos dos polícias que cá estão. Eles tranquilizam-me. Posso olhar para determinada ameaça e ouvir já uma notícia que é preciso a polícia ir a um estabelecimento comercial mas falo aqui com os meus profissionais e dizem-me logo para ter calma, que conhecem os intervenientes.
E aqui existe uma coisa que, graças a Deus, espero que se preserve por muitos anos, é que a educação prevalece, mesmo naqueles que pautam a sua vida pelo comportamento desviante. Há indivíduos que já foram alvo de ações policiais, que já foram condenados e ainda conseguem perceber que o polícia chega e as coisas têm de ter uma atitude diferente.

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