A opinião de ...

Revolução Francesa – Virtudes à base da Guilhotina!

1789, ano um da revolução liberal, que definiu a trilogia Liberdade-Igualdade-Fraternidade e a Declaração Universal dos Direitos do Homem, descambando numa das épocas mais intolerantes, restritivas e sangrentas.
Curiosamente, tudo começou por uma manifestação nobiliárquica de desagrado com o rei Luís XVI e a sua política de deveres e direitos para todos, antes de o terceiro estado (povo) a transformar numa revolução anti classes privilegiadas (nobreza e clero) e, posteriormente, contra a própria monarquia. Movimento revolucionário que conduzirá a França, a partir de 1793, a uma República iluminista internamente opressiva (exterminar) e externamente agressiva (destruir), marcada pela execução de Luís XVI, a 21 de janeiro, e a instalação do terror sob Robespierre. Nesta fase da «Convenção», cerca de 17.000 franceses, ditos inimigos da revolução, foram guilhotinados, que incluiu celebridades como a rainha Maria Antonieta ou o químico Antoine Lavoisier, e mais de 20.000 foram mortos no decorrer dos acontecimentos. Na Vendeia, onde emergiu desagrado contra a opressão, a resposta repressiva originou a morte de mais de 20.000 franceses. Até que o instrumento do terror caiu no pescoço dos próprios arautos, como Luís Filipe d’Orleães, grão-mestre do Grande da França, George Danton e o próprio Robespierre.
Enquanto a Convenção (fase interna) dava lugar ao Diretório (fase externa), na Europa os acontecimentos suscitavam, por um lado, a atenção dos soberanos e, por outro, a curiosidade de uma parte da opinião pública. É um tempo de expectativa que exerce um certo contágio, originando movimentos anárquicos contra os poderes estabelecidos. E, assim, o Diretório passou a manejar, com ferocidade, a argumentação ideológica e a estabelecer ou a divulgar os seus ideais além-fronteiras. Assiste-se, então, à rutura entre a França e a Europa do Antigo Regime, que procura a cooperação política e a convergência militar de forma a esmagar a revolução nos seus termos e a salvaguardarem a ordem europeia estabelecida.
A terceira etapa, entre 1799 e 1815 (Consulado/Império), é dominada pela personalidade de Napoleão Bonaparte e a ambição de uma ordem europeia imperial centrada em Paris. Aproveita a generosidade (e o sangue) humana e a disponibilidade material da revolução e amplia os seus efeitos, conjugando o vetor militar, enquanto meio de conquista, com a administração territorial como método de subjugação e usufruto. Se a revolução, no período do Diretório, não conseguiu crescer para além da margem esquerda do Reno e da Itália, com Napoleão estende o seu domínio da Península Ibérica à Polónia e das províncias da Ilíria à Dinamarca. O grande Império, no seu apogeu, em 1810-1811, cobre metade de uma Europa com as suas fronteiras alteradas, que inclui Estados vassalos como o reino de Itália, de Nápoles e da Holanda, as Confederações Helvética e do Reno e o Ducado de Varsóvia, e países ocasionalmente «aliados», como a Espanha ocupada, a Prússia subjugada e a Áustria manietada. Desenrolava-se uma guerra generalizada com a subida aos extremos da violência armada, uma retração comercial preocupante, o aumento desenfreado do desemprego e um alarmante êxodo populacional. No entanto, a unidade imperial europeia sob uma identidade liberal e republicana francesa sonhada por Napoleão, argumentada na ponta das baionetas, esbarrou em três obstáculos que se revelaram intransponíveis: i) a incapacidade de dominar o mar e, com ele, os proveitos comerciais, onde velava quase sem restrições a Grã-Bretanha; ii) o malogro da subjugação da Rússia, que anulou a expansão da águia imperial para leste; iii) a não aceitação de preitos de homenagem à opressão por parte das populações nacionais, que inviabilizou a conquista dos corações e acicatou ódios e paixões, sendo Portugal e a Espanha exemplos paradigmáticos.
Quando o imperador foi derrotado por uma coligação de nações em 1813 e, definitivamente, pelos ingleses de Wellington em Waterloo, acabando desterrado na ilha de Santa Helena no meio do Atlântico, as guerras que provocou deixaram um rasto superior a dois milhões de mortos e uma Europa multipolar reconfigurada em Viena, que duraria até à I Guerra Mundia

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