A opinião de ...

A crise energética

De cada vez que têm de passar passar pelas bombas de combustível para abastecer, os portugueses sentem uma mão gelada a entrar pelo bolso dentro.
Um fenómeno que se vai vivendo no nosso país desde a liberação decidida por Durão Barroso. Mas, ao invés de se assistir a uma saudável concorrência entre revendedores de combustível, assiste-se àquilo que dá todo o aspeto de ser uma concertação de preços. Então nos postos das autoestradas, chega a ser gritante de tão flagrante que é a proximidade de preços.
A exceção são os postos low cost de algumas superfícies comerciais, que 'obrigam' a que os postos adjacentes sejam, também, mais generosos nos preços.
Mesmo do outro lado da fronteira, refúgio para abastecer o depósito para muitos transmontanos, se começa a sentir o efeito da lei da oferta e da procura. As filas de carros e o aumento dos preços a fazer reduzir a diferença entre os dois países.
Enquanto isso, as petrolíferas vão enchendo os bolsos à custa de contribuintes particulares ou coletivos, isto é, de cidadãos e empresas, com lucros pornográficos.
Pornográficos porque os preços têm mantido tendência de subida independentemente de o valor do barril esteja mais alto ou mais baixo.
Se está alto, o valor dos combustíveis na bomba sobe porque o preço da matéria prima subiu.
Se o valor do barril até está baixo, o preço dos combustíveis sobe porque o valor dos impostos é mais alto.
E, no fogo cruzado, quem paga é o consumidor.
Este constanto sobe dois, desce um, sobe dois outra vez, sobretudo numa altura em que o preço do petróleo esteve estável durante meses, fez com que se perdesse margem de manobra no caso de acontecer o inesperado. E o inesperado aconteceu agora, com uma tempestade perfeita de aumentos de matérias primas e combustíveis fósseis.
Por um lado, a escassez de gás natural (somado ao diferendo entre Argélia e Marrocos que levou ao encerramento de um gasoduto que abastecia a Península Ibérica).
Por outro, a própria escassez de vento que afeta a produção de energia elétrica.
Os preços da energia têm estado a disparar no centro da Europa. Desde o início de setembro, na Alemanha o custo da eletricidade aumentou 36 por cento. Em França, 48 por cento, para níveis recorde.
Por cá, ainda que periclitante, o Governo garantiu que no próximo ano não haverá aumentos a este nível.
Mas, tendo em conta o histórico de situações semelhantes, quem pode dormir descansado?
Este é um dos principais obstáculos a qualquer retoma económica, de tal forma que até o preço do pão, um dos bens essenciais, está em vias de subida.
Está na altura de os líderes mundiais, que até foram de jato para a cimeira em que discutem o futuro do clima, deixem de lado o próprio umbigo e a hipocrisia e pensem que, sem eleitores, nunca serão eleitos.

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