A opinião de ...

As eleições que são diferentes de todas as outras

As eleições são todas iguais. Há pelo menos um candidato, há aqueles que votam. Os votos são contados e, no final, ganha aquele que tiver mais votos (ou, como nos EUA, mais delegados eleitos e não necessariamente mais votos populares).
No entanto, pelo menos em Portugal, há umas que são mais iguais do que as outras.
É o caso das eleições autárquicas que, pelo seu caráter de proximidade ao cidadão e do cidadão candidato, ganham uma carga emocional e uma tensão muito superior às restantes (mesmo as dos clubes desportivos).
Ano de eleições autárquicas, já se sabe, é ano de verão quente, mesmo que as temperaturas lá fora não o confirmem.
No Nordeste Transmontano, sobretudo no meio rural, o processo de elaboração de listas acaba sempre por criar alguma celeuma e potenciar divisões antigas, mesmo familiares.
São frequentes os casos de filhos candidatos contra pais, irmãos contra irmãos, primos contra primos, etc. Qualquer partido sabe que a chave do sucesso é apresentar um candidato de uma das maiores famílias da freguesia.
Contudo, a cada ciclo de quatro anos vemos uma crescente dificuldade de partidos e movimentos de cidadãos sem conseguirem cumprir os pressupostos legais para a apresentação de uma candidatura. Sobretudo nos meios rurais, em que o número de pessoas escasseia, é cada vez mais difícil conseguir candidatos, quanto mais assinaturas.
E este problema tem tendência a acentuar-se, como veremos nos próximos anos.
Por um lado, como bem explica a Glória Lopes na reportagem que pode ler na página 5, o envelhecimento da população e a falta de gente suficiente para manter uma saudável alternância democrática.
Por outro lado, a dificuldade em cumprir a paridade pela ausência de elementos do sexo feminino disponíveis para integrar listas.
A igualdade não se atinge por decreto e isso foi algo que as mentes pensantes que legislam ainda não perceberam.
Igualdade cria-se com igualdade de oportunidades e isso passa por criar condições em que os cidadãos possam exercer os seus direitos de cidadania de igual forma.
Tal como já se escreveu neste espaço que o associativismo está a morrer pela ausência de interesse das gerações mais novas, a política vai sofrer do mesmo problema.
A política, com as suas infindáveis reuniões, formalismos e burocracia, é muito pouco atrativa para a impaciência dos mais jovens.
E isso paga-se nas eleições. Com falta de candidatos e com muitos votos... que ficam por exercer.
O sistema político deveria ser revisto para facilitar a aproximação dos cidadãos e não com a lógica que presidiu à última alteração, que passa por afastar os movimentos de cidadãos de forma a manter o controlo do sistema pelos partidos (e dos respetivos tachos para os boys).
Sob pena de um dia, o sistema ser engolido pelo próprio sistema, ou por alguém que perceba, use e manipule. Enquanto os partidos assobiam alegremente para o lado.

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