A opinião de ...

Um ano de pesadelo

Marcelo Rebelo de Sousa, então no seu primeiro mandato de Presidente da República, tinha acabado de receber um banho de multidão em Podence, onde felicitou os Caretos que tinham sido considerados Património da UNESCO.
Poucos dias depois, o Governo em peso reunia em Bragança, inundando o Nordeste Transmontano no primeiro (e único) Conselho de Ministros descentralizado. A ideia era fazer escola e replicar a iniciativa noutros pontos do país mas as notícias que começavam a chegar de Itália, juntamente com os primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus, espoletavam as primeiras dúvidas quanto ao real perigo que se adivinhava lá pelo Oriente.
Numa manhã fria de 27 de fevereiro, a Ministra da Saúde, Marta Temido, era confrontada pelos jornalistas em plena Praça Cavaleiro Ferreira, em Bragança, com perguntas sobre viagens de finalistas. Começavam as primeiras limitações.
Desde esse dia, nada do que conhecíamos até aí ficou igual e as nossas vidas entraram em modo de suspensão.
Durante 12 meses, a covid-19 tem dominado as nossas vidas, com dois confinamentos decretados entretanto.
O primeiro caso positivo no distrito de Bragança foi identificado a 12 de março, em Mirandela, cumpre-se um ano precisamente amanhã.
E se, há um ano, a generalidade da população aceitava a ideia de ficar em casa para combater o vírus desconhecido, agora, a saturação torna mais difícil manter o rigor das medidas.
Medidas que asfixiaram a economia mundial e atiraram muitos negócios para a beira do precipício, nomeadamente no comércio tradicional, restauração e hotelaria.
Se o processo de vacinação tem feito progressos pela nossa saúde, prevendo-se um normalizar da circulação pelo menos até final do ano, a impressão digital que esta pandemia está a deixar no nosso mundo vai fazer-se sentir não nos próximos anos mas nas próximas décadas, pelo menos.
O paradigma de sociedade sem fronteiras sofreu um abalo considerável, com as limitações de deslocações a fazerem recordar tempos longínquos.
Pelos caminhos tortuosos deste ano, o distrito perdeu centenas de vidas (cerca de 300) e esse é o custo mais alto que estamos a pagar. Mas muitas mais ficaram afetadas.
Para assinalar a data, o Mensageiro foi ouvir alguns dos responsáveis pelo comércio da região e o que se ouve não é animador.
Mas, tal como noutras situações do passado, também os empresários mais afetados tentam olhar para o copo meio cheio e manter a esperança.

Que essa seja a última a abandonar-nos, assim como a certeza que das dificuldades emergiremos mais fortes.

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