A opinião de ...

As Autárquicas 2021

Porque as eleições autárquicas de 26 de setembro passado, deste ano de 2021, evidenciaram algumas surpresas, não deixam de merecer-me algumas considerações.
A primeira nota a assinalar foi, como temos vindo a constatar, de eleições para eleições, a forte abstenção do eleitorado, apesar do apelo ao voto vindo de todos os quadrantes, com a relevância que lhe foi dada pelo senhor Presidente da República.
Depois, é de assinalar a forma como as eleições decorreram: sem incidentes graves a registar, como é apanágio do povo português.
Posto isto, permitam-me alguns registos que se referem ao ato em causa.
Primeiro, a campanha eleitoral. Como também aconteceu noutras eleições, nesta campanha para as autárquicas, parece que pouco se falou de programas, contrariamente ao muito que se falou do que o Governo fez ou deixou de fazer.
Ora, eu tive a oportunidade de acompanhar, com alguma regularidade, pela comunicação social, o modo como o Governo tem vindo a governar. E verifiquei que, atendendo às circunstâncias em que teve de o fazer, não deixou de fazer o que, provavelmente, outro Governo a tal se veria obrigado. De facto, conturbado por uma grave situação de pandemia, viu-se obrigado a tomar medidas impopulares – uma das causas de reivindicações de trabalhadores, que algumas vezes resultaram em greves; greves que, apesar de justas, não deixaram de obrigar o Governo a refazer determinadas decisões e proceder aos necessários reajustamentos. Assim, conhecendo o que se conheceu desta forma de governar, penso que seria dispensável trazer para a campanha pecados que o Governo terá cometido, em vez de, como acima disse, cada partido ter como prioridade explicar claramente o seu programa.
Será esta maneira de proceder que leva a que o eleitorado se afaste da mesa de voto? Eu penso que sim. Os eleitores querem saber quem vai representá-los, o que vai e como o vai fazer, querem conhecê-lo, auscultar as suas opiniões a serem concretizadas para seu bem e para o bom andamento do País. Prometer: “trabalho e boas condições de trabalho para todos; salário igual para trabalho igual; saúde e educação; habitação condigna; igualdade de oportunidades para todos” não chega para convencer muito eleitor, que sente dificuldade em acolher semelhantes promessas – as quais, sempre formuladas antes de cada ato eleitoral, pouco lhe trouxeram de novo: ou não concretizadas ou parcialmente concretizadas.
É desta forma, que a democracia irá perdendo muito da sua importância como forma de governo, facto impossível de aceitar. E então, o que haverá a fazer?
Trazer para aqui os resultados de cada partido seria desnecessário, pois são já sobejamente conhecidos e oportunamente foram dissecados pelos comentadores: logicamente, há sempre os que ganham e os que perdem. Como noutras vezes, alguns dos ganhadores se manifestaram efusivamente satisfeitos, mesmo tendo sido eleitos por uma percentagem mínima – o que lhes será muito difícil levarem por diante a execução do programa com que se apresentaram. Curiosamente, também como sempre, os que perdem não deixam de encontrar algum pormenor, por pequeno que seja, que, no seu entender, os vai valorizar. E, deste modo, pelos vistos, todos acabam por ganhar.
Oxalá que estes ganhos, em vez de dividir, contribuam para a estabilidade política necessária ao País, no sentido de conseguir vencer as grandes dificuldades que se lhe apresentam.

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