A opinião de ...

O sofrimento humano

nfelizmente, continuamos a ver na televisão a destruição que dia a dia acontece como resultado duma guerra que, lá muito longe, parece não ter fim. E, enquanto somos testemunhas dessa destruição, também o somos de pessoas que choram por causa dessa guerra – ou porque lhe mataram um membro da família, ou porque lhe destruíram a casa onde passaram toda a vida, ou porque foram feridas por algum projétil, ou porque lhes foi cortada a esperança de viver, ou mesmo por causa de tudo o que ficou dito.
Os choros não se ouvem, veem-se apenas as vítimas a limpar as lágrimas que vão caindo e queimando o rosto, assim como divisamos os soluços como resposta à comoção provocada por tanta tristeza! E isso basta-nos.
Quanto sofrimento provocado por alguém que alegadamente pretende que o seu nome fique arvorado nos píncaros da montanha para que toda a gente o veja e o aplauda por ter sido um grande conquistador!
Alegadamente também, será que quem provoca esta tão grande tristeza não avalia a miséria causada por tanta destruição, que cada dia mais aumenta e cada dia se vai tornando mais feroz, ao criar e utilizar as mais sofisticadas armas de destruição: das vidas humanas, das casas, dos abrigos, dos bens pessoais, dos edifícios e lugares de utilidade pública, da natureza, da vida selvagem, do clima, ao mesmo tempo que leva a criar o desencanto, a incerteza, o desespero?
Se, por hipótese, toda a terra ficar destruída pela guerra, e, por isso mesmo, a humanidade desaparecer, com quê e com quem vão contar “os vencedores”?
No livro Uma Encíclica sobre a paz na Ucrânia, (coordenação de Francisco António Grana), o Santo Padre manifesta a sua dor e preocupação pelo que se passa na Ucrânia, firmadas nas transcrições, aleatoriamente daí retiradas. “Quem faz a guerra, quem provoca a guerra esquece a humanidade” (pág. 15); “Rios de sangue e de lágrimas correm na Ucrânia” (pág16); “Infelizmente, a agressão violenta contra a Ucrânia não cessa […]” (pág. 19); “A guerra não pode ser algo inevitável: não nos devemos habituar a ela! Pelo contrário, devemos converter a indignação de hoje no compromisso de amanhã” (pág. 21); “E mantenho-me sempre próximo da atormentada população ucraniana por uma chuva de mísseis todos os dias” (pág. 35); “Infelizmente, a guerra desvia atenção e recursos, mas são estes objetivos que exigem o máximo esforço: a luta contra a fome, a saúde, a educação” (pág. 36); “O nosso tempo atravessa uma carestia de paz. Pensemos nos muitos lugares do mundo atormentados pela guerra, especialmente na martirizada Ucrânia. Apressemo-nos e continuemos a rezar pela paz!” (pág. 43). Finalmente, além destas afirmações, bastará: “E o que dizer do facto de a humanidade se encontrar de novo diante da ameaça atómica? É absurdo” (pág.40).
Deste modo, se pode conhecer a preocupação, a inquietação e a dor manifestadas pelo Santo Padre com a guerra na Ucrânia, ao mesmo tempo que convida os beligerantes a parar com o conflito e negociar a paz.
Como é sobejamente sabido, depois do tão brutal acontecimento que foi a II Guerra Mundial, na sequência da grande mortandade e selvajaria que nela aconteceram e dos prejuízos que causou, a humanidade, depois de uma enorme reflexão a que, certamente, não foi alheio o arrependimento por tanta dor causada, resolveu criar a ONU com o propósito de não mais se envolver em guerras, todas elas fratricidas e agressivas para com o Planeta, procurando antes promover o diálogo, a conciliação e a entreajuda.
Pelos acontecimentos conhecidos na guerra de hoje, alguém considerou não atender aos objetivos daquela organização, utilizando argumentos que legitimem tamanho caos!

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