A opinião de ...

À [Re]descoberta da Promessa

O Agrupamento XVIII, do Corpo Nacional de Escutas [CNE], no ano transato, transmitiu 9 sessões por videoconferência e 2 presenciais, para caminheiros e dirigentes da Região, intituladas À [Re]Descoberta da Fé. Este ano continua “on-line”, agora para todo o país, para mais de três dezenas de inscritos, com as palestras À [Re]Descoberta da Promessa.
É, ao assumir o compromisso da Promessa, refere Carlos Alberto, que o jovem se torna um verdadeiro escuteiro. Este ato solene acontece depois de passar algum tempo no escutismo, para conhecer e experimentar os seus valores, o seu “modus operandi”, tempo necessário para tomar conscientemente uma opção, salienta o ex-Chefe Nacional do CNE.
Em 2006 publiquei, com a Junta Regional do CNE, nos Salesianos o livro para escuteiros, “Vigílias de Oração e Promessas”. Tempos depois fui a Lisboa, passando numa livraria da Baixa, tentei perceber como estava a sair e, quem eram os leitores. Poucos, responde o vendedor. Ainda assim insisti: sabe quem o procura? Há, sim, mais as senhoras que levam livros de novenas, por causa das Promessas. O meu padrinho, que me acompanhava, não querendo que eu esmorecesse logo na primeira publicação, diz-me com fino humor: “vá lá, só errastes no público-alvo… não desanimes pois são as avós que geralmente oferecem livros aos netos”.
A Promessa é algo positivo, antecipação de uma graça, que implica a fé em Deus e nos santos, a realização de um compromisso no tempo apontando ao futuro, referem os dicionários. Já no vocabulário teológico “Prometer é uma das palavras-chave da linguagem do amor” e, no de direito canónico é uma declaração de vontade relativa ao cumprimento futuro de uma obrigação.
A Promessa escutista é do âmbito do amor, da fé, não só da obrigação. O dom da fé deve ser transmitido e testemunhado, como refere o Papa Francisco. Ao pensar a formação escutista Baden Powell [BP para os amigos], não esqueceu as dinâmicas da fé que, segundo ele, podem requerer “atos, ou aulas complementares para prestar culto a Deus e para promover a melhor compreensão da Lei e da Promessa Escutista”, como refere no “Auxiliar do Chefe Escuta”. Mas, continua BP, estas “aulas” de formação da fé “não substituem os atos regulares do culto religioso, nem fazem o escutismo católico”. A catolicidade acontece se as crianças e os jovens reconhecerem na sua vida e, nas suas relações, a realização da Promessa de Deus [“BP hoje”].
Poderá pensar-se a relação educativa, do escutismo católico, sem fé? Não. Claro está, uma fé integrada num tecido relacional, que forme pessoas maduras, capazes de criar uma humanidade mais fraterna, como insiste o romano pontífice. Uma fé, como a oração, sem fastídio, alegre, bem-humorada, pensando o nosso relacionamento com Deus como uma amizade, como refere “James Martin”. Se o escutismo é jogo, brincadeira, amizade, como é que eu deixo que Deus entre nele? Ou, “em que é que Deus brinca comigo e, em que é que eu brinco com Deus?” A Promessa parte essencial do jogo escutista, aliança, não será sobretudo dinâmica relacional de amizade do escuta com Deus? Não será o início de pista, que com a boa ação, pode desencadear o jogo de relação fraterna, com Deus e com os irmãos? A profundidade do «prometo […] fazer os possíveis por cumprir os deveres para com Deus» é mesmo um caso sério.

Edição
3913

Assinaturas MDB