ATLETISMO

“O meu maior talento foi acreditar na minha capacidade de trabalho.”

Publicado por Guilherme Moutinho em Qui, 2021-07-22 11:54

Ricardo Ribas, em entrevista ao Mensageiro de Bragança, fala da sua longa e frutífera carreira desportiva. O atleta olímpico, natural da aldeia de Malhadas em Miranda do Douro, colocou um ponto final na sua longa história no atletismo nacional aos 43 anos. A despedida, em Guimarães, no passado dia 10 de julho, nos 3.000 metros da Prova Extra Torneio Olímpico Jovem terminou com mais um lugar no pódio.

Esta é a história de “El Comandante”, o atleta transmontano que somou 11 medalhas de ouro em Campeonatos Nacionais de atletismo e representou Portugal por 34 ocasiões, inclusive nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. Por clubes, representou o Ginásio Clube de Bragança, Maratona Clube de Portugal, Skoda, Conforlimpa, Sport Lisboa e Benfica e Sporting Clube de Braga.

MdB - Como e quando iniciaste a prática do atletismo?

RR – Iniciei a prática do atletismo na escola, em Vimioso, numa prova do Desporto Escolar, onde ganhei no corta-mato. Depois, vou ao Regional e fico em segundo lugar, atrás de um grande talento. O seu nome era João Dinis e esse era, realmente, um puro talento. Foi nesse evento que o Carlos Fernandes Dinis viu que tinha ali uma pérola transmontana. O Carlos não deixou escapar a oportunidade e levou-me para o Ginásio Clube de Bragança, tinha eu 11 anos.

MdB - Conta-nos como foi o teu percurso como atleta?

RR – Foi um percurso de muitos sonhos. De degrau a degrau, fui realizando todos esses sonhos e coloquei a cereja em cima do bolo com a minha ida aos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. Foi um percurso muito difícil, porque todos os atletas têm sempre as dificuldades normais e naturais para lá chegar. Sinto que fui acompanhado por uma estrela, pelo facto de não ser aquele atleta de lesões. Tinha as minhas dores normais, mas nunca fui um atleta azarado nesse campo. Aliás, tenho um número impressionante. Desde que participei no Nacional de Corta Mato de Iniciados no ano de 1988, em Albufeira, até 2019, em Lisboa, nunca falhei um Nacional de Corta Mato. São 31 Campeonatos Nacionais de Corta Mato consecutivos, isto diz muito da minha longevidade. O meu maior talento foi acreditar na minha capacidade de trabalho e na capacidade de o meu corpo absorver grandes cargas de treino. Cheguei a treinar 258 quilómetros por semana. Foi exagerado? Cheguei aos Jogos Olímpicos.

MdB - Em retrospetiva, quais os momentos mais marcantes da tua longa carreira como atleta?

RR – Os momentos mais marcantes da minha carreira desportiva são muitos e variados. Como disse, fui subindo degrau a degrau, apanhando sonho a sonho, mas a minha vitória em Leiria na Taça da Europa nos 5000 metros, sagrar-me Campeão Nacional, pela primeira vez, no Cross Curto em Santa Maria da Feira, o 10.º lugar na Maratona do Campeonato da Europa e finalmente cortar a meta nos Jogos Olímpicos do Rio irão ficar marcados para sempre na minha memória.

MdB - Qual a tua prova favorita?

RR – Destaquei-me no Corta Mato e na Maratona, mas fico com uma mágoa muito grande por nunca ter tido a oportunidade de representar um clube onde pudesse aplicar-me somente na pista. Fiz 7´55”34 minutos nos 3000 metros a trabalhar até as 2h da manhã num restaurante, 3´43” minutos nos 1500 metros e 13´45” minutos nos 5000 metros. Acredito que em pista ficou muita margem de progressão por explorar, mas nunca tive essa oportunidade. Essa oportunidade faltou fruto da qualidade dos atletas na altura, tenho essa noção bem presente. A minha prova preferida, por incrível que pareça, sempre foi os 3000 metros em pista. Consegui atingir 6 marcas abaixo dos 8´00”, era uma prova que adorava competir.

MdB - Qual a receita para manter a forma competitiva aos 43 anos de idade?

RR – A receita foi ter a sorte de apanhar a escola do Maratona CP, onde os atletas de Alta Competição às 22h já estavam a dormir, de ouvir milhentas vezes os dirigentes dizer que o treino invisível também faz parte do treino (descanso, dormir 8 horas de noite e nunca falhar a sesta). Em 2016, quando tive a porta aberta, pela última vez, para ir aos Jogos Olímpicos cheguei a dormir 14 a 15h por dia. Sou uma pessoa muito focada, muito competitiva, quando meto uma coisa na cabeça não há volta a dar, é para cumprir.

MdB - Como geriu a manutenção competitiva em período pandémico?

RR – Ao longo da minha carreira nunca precisei de competições oficiais para me colocar em forma. Traço os meus objetivos a atingir, seja num determinado tempo ou quilómetros, e isso facilitou imenso a vida.

Fotos: Direitos Reservados
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