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A Bomba Atómica e a Era do Terror!

À conta da «aventura» expansionista da Alemanha Nazi, a Europa e o mundo mergulharam na II Guerra Mundial, o mais violento e destrutivo conflito da História. Com três teatros de guerra principais – Europa Ocidental e Oriental e Ásia-Pacífico – a guerra durou seis longos anos e originou cerca de 60 milhões de mortos diretos, metade dos quais civis. Na Europa, o inimigo a abater era a Alemanha de Hitler, na Ásia o Japão de Hiroito e Tojo.

Em 1943, temia-se da parte dos Aliados que a Alemanha conseguisse a Bomba Atómica, o que originou o Projeto Manhattan, liderado pelos EUA, com o apoio do Reino Unido e do Canadá. Sob supervisão militar, o físico J. Robert Oppenheimer reuniu uma equipa de cientistas em Alamogordo-Novo México, onde fizeram deflagrar com sucesso a primeira Bomba Atómica da história. Inaugurava-se a era nuclear e conta-se que Oppenheimer, ao ver a potência da explosão naquela madrugada de 16 de julho de 1945, disse «Tornei-me a Morte, destruidora de mundos». Curiosamente, o sucesso experimental ocorreu numa altura em que a Alemanha, militarmente derrotada, tinha assinado a rendição incondicional em maio. Seria o Japão a sofrer os efeitos de tão devastadora arma, quando o presidente Harry Truman ordenou a lançamento da «Little Boy» e da «Fat Man», sobre as cidades de Hiroxima e de Nagasáqui, a 6 e 9 de agosto de 1945, respetivamente, enquanto método de acelerar a rendição do Japão. Apreensivo com o poder destrutivo da sua criação, que causou mais de 200.000 mortos naquelas duas cidades, Oppenheimer tornar-se-ia pacifista; tido como simpatizante dos ideais comunistas, acabou ostracizado pelos poderes públicos. É todo este enredo que «Oppenheimer», a longa-metragem realizada por Christopher Nolan, narra com notável factualidade, atualmente em exibição nas salas de cinema.

Entrava-se na Guerra-Fria e na competição político-militar entre os EUA e a URSS, um sistema bipolar assente no desenvolvimento de armas nucleares cada vez mais potentes e destrutivas, pelos que os tempos convidavam à emergência dos falcões da grande estratégia. «Delicado equilíbrio de terror», que obrigou a um estrito controlo político, ou seja, pela primeira vez uma «simples arma» relevava tal importância estratégica que os pressupostos da sua utilização competiam exclusivamente ao poder político. Além disso, também pela primeira vez na História não havia a anti arma. Colin Gray [War, Peace and Internatrional Relations, New York, Routledge, 2007] aponta cinco razões pelas quais as armas nucleares transformaram o conceito de defesa: i) romperam a ligação entre os meios e os fins, essência tradicional da estratégia; ii) se ambos os contendores possuem a arma nuclear, uma vitória militar decisiva torna-se impossível; iii) uma potência nuclear pode vencer o inimigo sem a derrota das suas forças armadas, mas se o opositor também tiver a arma nuclear o resultado será uma derrota bilateral, o que torna o conflito de alta intensidade não atrativo; iv) as armas nucleares elevam o nível de recurso à força, fazendo com que os estados nucleares sejam mais avessos a combater entre si que os estados não nucleares; v) as armas nucleares têm o poder de congelar as condições da confrontação política e a guerra já não é considerada como um instrumento político para a resolução de problemas. Este último pressuposto ruiu com a invasão da Ucrânia pelas forças militares russas.

A Arma Nuclear é, assim, sinónimo de poder e de capacidade de dissuasão, existindo na atualidade mais de doze mil ogivas distribuídas desigualmente por nove países: Rússia, EUA, China, França e Reino Unido (pertencentes ao Conselho de Segurança da ONU), Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte. Com o maior dos arsenais, a par dos EUA, é o trunfo que mantém a Rússia de Putin à tona face às potências ocidentais no contexto da Guerra na Ucrânia, mostrando ainda como a ostensiva irresponsabilidade política de um só homem pode colocar a humanidade à beira de um ataque de nervos. Constatação que terá sido o ponto de partida para C. Nolan realizar o imperdível «Oppenheimer»!

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