A opinião de ...

Guerra Russo-Ucraniana um Ano depois! E Agora? III

Em 1923/24, um ex-cabo austro-alemão de nome Hitler escreveu o Mein Kampf a olhar para futuras conquistas territoriais a Leste e, ao longo da década 1930, numa estratégia de Ações Sucessivas, subiu à chancelaria do Reich, ocupou o Sarre sem um tiro, experimentou as armas na Guerra Civil de Espanha, absorveu a Áustria (Anschluss), desmembrou a Checoslováquia surripiando a Boémia e a Morávia, coligou-se com Stalin e escravizou a Polónia. Depois, assumindo-se como o «maior estratega de todos os tempos», passeou-se em Paris, após vencer a França, derrotou a Jugoslávia e a Grécia, aliou-se ao «Império do Sol Nascente», traiu Stalin e invadiu confiante a URSS. Porém, com o Reino Unido de Churchill a combatê-lo, os EUA a injetar soldados, material militar e dinheiro na Europa e o despeitado Stalin a renascer das cinzas, Hitler foi da vitória a vitórias de Pirro, até à derrocada final. Qual remake, Putin orientou o seu expansionismo para Oeste, mas antes terraplanou a Chechénia para sentir o cheiro a napalm, atacou violentamente a pequena Geórgia para mostrar quem é o dono do estrangeiro próximo da Rússia, surripiou a Crimeia e assim teve o seu momento checo, experimentou armas destrutivas na Síria e … seguia-se o passeio ucraniano, o seu «Anschluss», para então reconciliar a sonhada Grande Rússia e marcar encontro para a História com o ídolo Pedro o Grande. Seguia-se …!
Um ano após a invasão, pergunta-se. E agora? Se a guerra, a nível político, se internacionalizou com o apoio declarado do Ocidente Alargado à Ucrânia, no âmbito militar mantém-se circunscrita a território ucraniano e aos dois contendores, decorrendo as operações, presentemente a Leste, de forma convencional (pese embora a recorrente e perigosa retórica nuclear apregoada pelo Kremlin), limitadas no espaço e nos meios empregues, sobressaindo a violência dos combates e a generalização dos bombardeamentos a infraestruturas e a cidades ucranianas. Não se afigura provável a capitulação de um dos beligerantes, que coloque um ponto final na guerra. A Rússia tem capacidade (e vontade) para a manter por tempo indeterminado e a Ucrânia determinação e apoios consistentes para resistir indefinidamente. Até porque não se trata de aferir se a Ucrânia vai ganhar a guerra, mas ser derrotada (perda da soberania), mediante um pousar de armas que, já se intuiu, dificilmente acontecerá. Do lado russo, a questão não está no perder a guerra, mas sim de a ganhar (suserania da Ucrânia) que, também já se percebeu, não é expectável que ocorra. O ponto é que a Rússia invadiu e a Ucrânia foi invadida. Se aquela retirar a guerra acaba; se esta se render deixa de existir.
Deriva, então, a mais provável solução diplomática, mediante uma fórmula negocial tendo como atores, além da Rússia, da Ucrânia e da neutral ONU, Estados/Organizações envolvidos no contexto e partes interessadas no day after. As questões são qual o ponto de partida para o encetar de negociações e o estado final aceitável para os oponentes? Zelensky manifesta indisponibilidade em ceder parcelas territoriais ocupadas ou firmar tréguas que congelem simplesmente o conflito. Para Putin, a Crimeia é parte integrante da Rússia e assume a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e de Lugansk.
Este é o «nó de górdio» da complexa situação.
Uma coisa parece certa, Putin perdeu a parada a «meio da corrida» e, se tivesse uma máquina do tempo, não hesitaria em regressar a … 23 de fevereiro de 2022! Depois de 1991, não só a Rússia se arrisca a sucumbir pela segunda vez num espaço de 20 anos – à semelhança da Alemanha do kaiser e hitleriana em 1918 e 1945 – como Putin caminha para ser o Mussolini do «Império do Meio», abraçado ao «refúgio» do seu arsenal nuclear. Da Guerra Russo-Ucraniana sairá uma nova ordem internacional, bipolar centrada nos superpoderes EUA e China, a Rússia menoriza-se estrategicamente, a NATO reforça critérios de defesa e reencontrou o «velho inimigo», desenha-se uma nova arquitetura de segurança europeia, com Bruxelas a rever o diferencial «manteiga-canhão», enquanto a região da Ásia-Pacífico será o principal e mais perigoso palco geopolítico mundial, onde as rivalidades são uma realidade.

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