A opinião de ...

Joseph Ratzinger – Bento XVI (1927-2022)

No último dia de 2022, aos 95 anos de idade, Bento XVI foi ao encontro da «Face de Deus», Aquele a quem representou na terra com fé, humildade e humanidade.
Papa Místico, Papa Profeta ou um Doutor da Igreja, legou-nos uma obra teológica e pastoral compreendida por uma centena de livros e mais de 600 artigos, traduzidos em todas as línguas. Alguns deles coletâneas de catequeses ensinadas à comunidade. Bem exortava Santo Agostinho, «Crer para Conhecer; Conhecer para Crer». Como meu «Catequista» Maior, destaco: i) trilogia de «Jesus de Nazaré» – leitura obrigatória de qualquer cristão; ii) «Os Doze Apóstolos»; iii) «Os Padres da Igreja. De Clemente Romano a Santo Agostinho»; iv) «Padres e Doutores da Igreja»; v) «Os Mestres»; vi) «Santas e Beatas. Figuras Femininas da Idade Média»; vii) «Ser Cristão na Era Neopagã»; viii) «Conteúdo e Orientações para uma Catequese Renovada». Teologicamente profunda e cientificamente rigorosa, a escrita dos seus textos é de uma simplicidade e clareza espantosa, de leitura assaz acessível. Esta singeleza está patente no Prefácio de «A Infância de Jesus», quando diz “tomei a peito dialogar com os textos. Estou bem ciente de que este diálogo, na ligação entre passado, presente e futuro, não poderá jamais dar-se por completo e de que toda a interpretação fica aquém da grandeza do texto bíblico”. Bento XVI, um Pensador de espiritualidade profunda, um Académico de imenso saber, Homem refletido e um Papa atento aos trilhos da Igreja de Cristo. Pouco atreito a superficialidades espirituais, a vacuidades sociais ou a frases à medida de adeptos, alertava que “um Cristianismo que está de acordo com tudo e que é compatível com tudo é um Cristianismo supérfluo”.
Sucedeu ao «Grande Papa» São João Paulo II (expressão sua) e tomou (não por acaso) o nome Bento, do Santo Padroeiro da Europa. A Europa, centro civilizacional da humanidade entregue ao ateísmo, hedonismo, relativismo e liberalidade social; enquanto em África e nas Américas pululam as seitas, no Médio Oriente o cristão é mártir e na Ásia as dificuldades de evangelização são evidentes. Parece-me que Joseph Ratzinger chegou tarde ao Pontificado (19 de abril de 2005) e que Bento XVI se tornou Emérito cedo demais (28 de fevereiro de 2013). Mas a marca, a sua marca de santidade profética, ainda pouco percetível neste mundo apóstata, irromperá.
Entre 11 e 14 de maio de 2010, esteve em Portugal em visita pastoral. Além de presidir às celebrações de Fátima, esteve ainda em Lisboa e no Porto, onde celebrou missa no Terreiro do Paço e na Avenida dos Aliados, respetivamente.
SS Papa Bento XVI não foi a tempo e não teve tempo; veremos o que o tempo nos reserva. Confiança e não temamos, exortava São João Paulo II, que com Ratzinger laborou a maior dupla de sucesso espiritual dos tempos modernos – dois Príncipes da Igreja. Até porque, afinal, a Igreja é Obra de Deus e o Papa Bento foi um servo dileto que será sempre presente! Aos leitores, aconselho a leitura do seu poderoso testemunho «O Meu Testemunho Espiritual», escrito em 2006 e agora dado a conhecer pela Santa Sé. Acessível na Internet, ali nos pede para permanecermos firmes na fé e que rezemos por ele, para «o Senhor, não obstante todos os meus pecados e insuficiências, me acolher nas moradas eternas».
Senhor, eu te amo», foram as suas derradeiras palavras antes de ir ao Seu encontro, e dele disse o Papa Francisco: «só Deus conhece os sacrifícios que ele fez pelo bem da Igreja».
Ad Gloriam Christo!

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