A opinião de ...

Despovoamento leva a desertificação

Em janeiro, o Papa Francisco, falando de improviso para os membros da Associação Italiana para a Subsidiariedade e a Modernização dos Órgãos Locais, chamava a atenção para aquilo que apelidou de cultura do despovoamento, que Itália e outros países, como Portugal, enfrentam.
“Devemos levar a sério o problema da natalidade porque aqui está em jogo o futuro do país”, disse o Papa. “Ter filhos é um dever para sobreviver, para seguir em frente”, concluiu Francisco I.
Em Portugal, vive-se drama idêntico, com cerca de 80 por cento do território nacional a migrar para grandes cidades do litoral e a mirrar a cada dia que passa.
Na diocese de Bragança-Miranda, que corresponde ao distrito de Bragança, 43 padres acompanham cerca de 380 paróquias, naquele que é o quarto maior distrito em termos de área territorial, com as comunidades muito dispersas umas das outras. Isso implica mais gastos e mais tempo para as deslocações, que são mais e maiores do que noutros pontos do país.
Portanto, temos, não só a nível de Igreja, mas, sobretudo, a nível de gestão territorial nacional, realidades diferentes. Assim como está consagrado o estatuto de insularidade mas os habitantes das ilhas (arquipélagos dos Açores e da Madeira), o Governo deveria olhar para o estatuto de Interioridade, para os habitantes do Interior do país, que sofrem constrangimentos desconhecidos dos grandes meios.
Porque um território sem gente transforma-se em deserto. O fenómeno do despovoamento conduz, inevitavelmente, à desertificação, conceitos tantas vezes confundidos.
Sem gente que trate dos campos, que pastoreie o gado, que viva nas nossas aldeias, a paisagem vai sendo abandonada e tornando-se (ainda mais) desordenada e pasto de chamas quando chega o verão e as temperaturas cada vez mais elevadas.
E, assim, os recursos naturais que fazem a diferença positiva no Nordeste Transmontano, rapidamente caem em esquecimento e deixarão de estar presentes sem ser em memórias distantes.
É preciso lutar e chamar a atenção para que esse processo se inverta, o mais rapidamente possível. Lutar pelo ambiente não é só combater o plástico, é defender também as populações que o trouxeram até aqui.

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