Esclarecimento impunha-se
O ex-presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, prestou esta semana esclarecimentos à Nação sobre alguns dos assuntos que têm envolvido o seu nome nas últimas semanas, nomeadamente a constituição de duas empresas no ramo imobiliário, já depois de ter sido nomeado Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, numa altura em que se preparava, nesse Ministério, a Lei dos Solos.
Perante as dúvidas que se foram levantando desde novembro, o antigo governante tinha optado, numa primeira fase, pelo silêncio. Quando decidiu responder, o ruído já era de tal forma alto que as explicações saíram abafadas.
Algumas das explicações vieram colocar pedras sobre determinados assuntos, outras servirão de munição aos que lhe apontam o dedo. Seria sempre assim em qualquer momento em que viesse dar explicações. Tentar evitá-lo seria como parar uma enxurrada com as mãos.
Perante o que se viu terça-feira, na Assembleia da República, teria sido mais simples ter prestado logo os esclarecimentos que se impunham, em vez de uma fuga para a frente que apenas permitiu que se instalassem mais dúvidas.
Ora, as dúvidas são como o ácido, corroem a confiança. E, quando se vêm desfazer tarde, alguns estragos já estão feitos e são irremediáveis.
Como diria o Diácono Remédios, aquela personagem do Herman José, “não havia necessidade”...
A política é como o futebol, mexe com as emoções mais básicas do Ser Humano. Com esta audição, os que o apoiam confirmaram a ideia que tinham dele. Assim como os detratores hão de encontrar motivos para mais críticas.
Mas, das explicações dadas pelo antigo autarca de Bragança fica, desde logo, uma ideia, assumida, até, pelo próprio: não mediu o alcance político nem o poder explosivo que a constituição de empresas com uma área de atuação tão abrangente e potencialmente conflituante com a sua enquanto governante poderia ter. Sendo uma empresa de cariz familiar e para gerir ativos familiares, como o próprio explicou, haveria necessidade de ter lá o seu nome?
De igual forma, numa cidade tão grande como o Porto, haveria necessidade de fazer não um mas dois negócios privados com uma empresa que fornecia serviços ao Município ao qual presidia? A mesma empresa que lhe mereceu dúvidas, ao ponto de ter sido o próprio Hernâni Dias a fazer uma participação ao Ministério Público?
Mais do que apontar aos jornalistas, Hernâni Dias deve refletir sobre os pecados próprios.
Da audição, fica também a noção de que o ex-governante procurou resguardar-se ao máximo em termos de legalidade. Com isso, descurou a parte política, como o próprio assumiu perante os deputados. E foi isso que lhe custou o cargo... Não havia necessidade...
Depois de a poeira assentar, vamos ver o que se salva.