Porque não devemos deixar as crianças fazerem birras
Aviso à navegação, este texto não é, fundamentalmente, sobre crianças. É sobre todos nós.
Aquilo a que assistimos esta semana no Parlamento mais não é do que uma birra de crianças. Crianças mimadas, pouco habituadas a que se lhes diga que não. E quando os pais falham em ensinar os filhos a lidar com o não, tornam-nos crianças caprichosas.
E crianças caprichosas agem sem pensar com bom senso, mas emocionalmente. Deixam-se tomar conta pelas emoções.
Não deixa de ser irónico que o Primeiro-Ministro avençado da Solverde, uma empresa de casinos, tenha arriscado num bluff que lhe saiu caro quando foi chamado a ir a jogo.
O que é certo é que esta crise política era completamente escusada para Portugal e para os portugueses. São já as terceiras eleições no espaço de quatro anos.
Tivemos as primeiras em 2022, que deram maioria absoluta ao PS de António Costa.
Não contente com o resultado e com a alteração verificada na relação de poder entre Belém e S. Bento, o Presidente da República forçou a queda desse Governo, suportado por uma maioria parlamentar, por uma birra contra Costa. E que custou caro ao país, forçado a ir a eleições novamente no ano passado.
Desde logo por abrir um precedente que, agora, lhe tinha dado jeito não abrir.
Se tem permitido empossar um outro Primeiro-Ministro após a demissão de António Costa, ou exigido que Costa permanecesse no cargo enquanto a investigação não aclarasse a situação, Marcelo Rebelo de Sousa não teria, agora, a necessidade de ser coerente e dissolver também a Assembleia da República, apenas um ano e um dia depois das últimas eleições.
O problema não é o Governo da AD, que mal ou bem vai fazendo o seu caminho. O problema é Luís Montenegro, figura com costela brigantina (o pai era natural de Rabal), atolado numa crise de ética, quiçá legal, o que na política é fatal. Como fatal foi para Hernâni Dias, a quem o próprio Montenegro apelidou de imprudente, no início de um escândalo que, em boa verdade, levou a toda esta crise.
Uma imprudência que soube apontar aos outros mas que não teve discernimento em ver em si próprio.
O espetáculo deprimente que deu no Parlamento, na terça-feira, com uma fuga desesperada a uma Comissão de Inquérito não auguram nada de bom. Nem a garantia de que será novamente candidato, mesmo sendo arguido. A política não se faz apenas de lei.
A forma como as lideranças dos partidos com assento na Assembleia da República extremaram posições, sem bom senso nem diálogo, é indicativo de crianças mimadas e caprichosas, que não sabem aceitar um não como resposta.
Nunca é tarde para aprender.